Desde o ano passado, os recorrentes casos de assédio no Carnaval estão sendo alvos de uma rede de mobilização digital que está ganhando força em Pernambuco. O objetivo é combater o machismo e permitir às mulheres a liberdade de ser foliã e ser respeitada. Em 2018, a campanha #AconteceuNoCarnaval expande suas fronteiras para fortalecer a iniciativa. Através da união com a rede paulista Minha Sampa e com a campanha #CarnavalSemAssédio do Catraca Livre, as redes locais Meu Recife, Mete a Colher e Women Friendly esperam aumentar os números de relatos de assédios coletados, com o objetivo de construir um mapeamento mais amplo do problema.
Em 2017, a campanha conseguiram reunir 66 relatos, apenas em Recife e Olinda; neste ano, o objetivo é alcançar 4 milhões de pessoas, contabilizando mais de 5 mil relatos, até o final de fevereiro, em Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro. Incentivar e cobrar políticas públicas do poder local são os principais objetivos, através da entrega dos relatórios contendo os depoimentos das mulheres e os locais menos seguros para o público feminino. No ano passado, por exemplo, o primeiro balanço da campanha foi entregue à Secretaria da Mulher do Recife e do Estado de Pernambuco, mas até o momento não houve respostas, segundo Renata Albertim, co-fundadora do startup Mete a Colher. O mesmo será feito junto ao poder público de São Paulo para elevar a ação à nível nacional.
As ações da campanha são uma mistura de mobilização virtual com ativismo de rua. Primeiro, através do depoimento que pode ser dado via Whatsapp, no número (81) 99140-5869, ou pelo Site da Campanha. Além disso, a conscientização ganha visibilidade na folia, através do "lambidaço", que são cartazes distribuídos pelas ruas com dizeres contra o assédio e o machismo. Com eles, a foliã pode tirar foto, brincar e compartilhar a ideia nas redes sociais. Outra iniciativa são as "fitinhas da sororidade" que serão dadas às mulheres para que elas possam se identificar e formar uma rede de apoio mútuo. Seja em clima de brincadeira ou seriedade, o importante é "deixar bem nítido para todo mundo que o corpo da mulher é dela e as pessoas só vão tocar se ela permitir”, como diz Renata.
Segundo as redes idealizadoras do projeto, a campanha #AconteceuNoCarnaval funciona como um incentivo à denúncia, não substituindo etapas importantes como a denúncia na própria Delegacia da Mulher, ou mesmo o acompanhamento psicossocial pelo qual a vítima deve passar. Com isso, é possível garantir uma melhoria nos dados, como explica Ana Addobbati, do Women Friendly, "a campanha #AconteceuNoCarnaval é mais do que necessária. Quanto mais as mulheres denunciarem, mais chances temos de garantir que o Carnaval do Brasil seja amigo da mulher".
Relatório 2017
Para compartilhar o ocorrido, as mulheres respondem às seguintes perguntas “O que aconteceu? Onde? Foi com você mesma? Foi fazer a denúncia?”. Devido ao receio e constrangimento que muitas mulheres sentem ao relatar esses casos, nome, idade e email são opcionais. Segundo o relatório do ano passado, os tipos de assédio mais freqüentes são, respectivamente: apalpadas em partes íntimas (17 casos), beijo forçado (15), violência verbal (10), esfregão ou abraços sem consentimento (6), puxões de braço (6), além de violência física ou agressão (5).