Paquera, sim. Assédio, não. Para quem não consegue perceber a diferença entre uma coisa e outra, o recado é simples e direto: Não é não. Neste Carnaval, essa frase vai estampar a pele de milhares de mulheres, para deixar claro que o corpo é delas. Nascida no ano passado no Carnaval do Rio de Janeiro, a campanha chegou este ano à folia de Pernambuco, pelas mãos de blocos da terra que ficaram com a missão de espalhar a mensagem e distribuir cinco mil tatuagens entre as foliãs que vão brincar em Olinda e Recife.
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A escolha por tatuar na pele o que já deveria estar na cabeça de todos os homens é estratégica. Primeiro porque cria uma identidade visual que ajuda a massificar a ideia. Não é um panfleto que você pega, lê (ou não) e joga fora. Depois porque é o corpo da mulher o alvo do assédio. Nada mais simbólico do que estampar nele o aviso de que há limites que não podem ser ultrapassados.
Em entrevista por telefone ao JC, Luiza Borges, uma das idealizadoras da campanha no Rio, explica que a ideia foi um sucesso tão grande na folia carioca que o grupo resolveu espalhar para outros Estados que tinham igualmente tradição no Carnaval de rua.
“Criamos uma campanha de financiamento coletivo na internet e conseguimos expandir o ‘Não é não’ para outros quatro Estados: Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Pernambuco”, conta. A escolha dos parceiros se deu por identificação. “Fizemos parceria com blocos que já têm um posicionamento claro contra o assédio sexual. Cada Estado recebeu cinco mil tatuagens para distribuir no Carnaval”, conta Luiza.
Os parceiros da campanha em Pernambuco são os blocos Essa Fada, Vaca Profana, Comigo é Assim, Baque Mulher, além da rede Meu Recife. “A ideia da permissividade do Carnaval faz com que as pessoas achem que podem fazer o que quiserem. Então a gente ter uma frase reforçando o combate ao assédio é muito importante”, diz Dandara Pagu, do Vaca Profana. Colega de bloco, Larissa Temônia reforça que “muitos homens ainda não entendem esse limite. Então, é preciso tatuá-lo no corpo, na mão, para ficar claro o recado”.
Apesar do assédio ainda acontecer com frequência, Gabriela Carvalho, do bloco Essa Fada, diz que as mulheres estão mais conscientes, mais empoderadas e mais donas de si e do que querem. “O recado que elas têm passado é ‘meu corpo, minhas regras, minha lei’. É um caminho longo a ser percorrido, mas estamos avançando”, ressalta.
VISIBILIDADE
A visibilidade que o Carnaval dá é uma vitrine importante para a campanha, mas Isa Carral, do Baque Mulher, diz que a mensagem vai para além dos dias de folia. “O assédio acontece o ano inteiro. Então a gente tem que estar discutindo isso o tempo todo.”
Integrante do Comigo é Assim, Hellyda Cavalcanti afirma que a ideia é formar uma rede que envolva os homens não só como alvo, mas também como multiplicadores da campanha. “Quando eles divulgam para as suas famílias, amigos e amigas, estão ajudando a consolidar uma cultura de respeito. E isso interessa a todos.”