Carnaval do Rio

Carnaval do Rio mostra criatividade contra a crise e o 'vampiro' Temer

No primeiro dia de desfile das escolas, Mangueira é destaque com crítica a Crivella

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Publicado em 12/02/2018 às 10:10
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
No primeiro dia de desfile das escolas, Mangueira é destaque com crítica a Crivella - FOTO: Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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As escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro incendiaram o sambódromo neste domingo, na primeira das duas noites de desfile, que teve conotação de crise política e social.

Carros que criticavam o prefeito evangélico Marcelo Crivella, que cortou a verba para os desfiles, ou exibiam o presidente Michel Temer como um vampiro foram alguns dos destaques da noite.

Sete das 13 escolas do Grupo Especial desfilaram na noite deste domingo, e outras seis o farão nesta segunda-feira, até o amanhecer. A primeira a desfilar, Império Serrano, abusou da criatividade com uma homenagem à China, expressando sua admiração pela cultura milenar que se tornou uma nação líder no século XXI.

Os carros alegóricos representaram um pagode gigante, um dragão, um Buda e a Grande Muralha, enquanto as alas exibiam alegorias sobre a Rota da Seda ou a guarda imperial das antigas dinastias.

No ano passado, o carnaval carioca coroou duas escolas, que terminaram empatadas: Portela e Mocidade Independente de Padre Miguel. As normas de segurança foram reforçadas este ano, e os motoristas dos carros alegóricos tiveram que submeter, pela primeira vez, a testes para detectar o teor de álcool no sangue.

"É uma boa ideia. Assim, estaremos seguros de que os motoristas não vão ter bebido", aprovou Felipe Gomes, que comandava um carro da Vila Isabel representando um carrosel futurista gigante.

Carnaval de crise 

Mas a segurança não é um tema que se resume ao sambódromo. Cerca de 17 mil policiais foram mobilizados na cidade, que vive uma onda de violência centrada na guerra entre traficantes de drogas nas favelas, com operações militares para tentar recuperar o controle da situação.

Para complicar as coisas, as escolas de samba tiveram que lançar mão da criatividade depois que o prefeito Marcelo Crivella, ex-bispo evangélico, reduziu pela metade o subsídio municipal, alegando o impacto da crise financeira.

Após a polêmica, Crivella adotou um tom mais conciliador e reconheceu, na última sexta-feira, que a celebração, que atrai mais de 1 milhão de turistas para a cidade e gera mais de 1 bilhão de dólares, poderia "devolver o otimismo" à população.

O desfile da Mangueira, que aconteceu de madrugada, teve o tema "Com dinheiro ou sem dinheiro eu brinco", e proclamou, provocante: "Pecado é não se divertir no carnaval".

 

Presidente Drácula 

Outra escola, Paraíso do Tuiuti, apresentou um enredo com o tema "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?", que lembrou que, este ano, completam-se apenas 130 anos desde o fim desta forma de exploração humana no Brasil, sem que suas sequelas tenham sido eliminadas.

Várias alas foram dedicadas a lembrar este fato, como o alto nível de desigualdade social, a exploração do trabalho rural e em oficinas industriais, e o trabalho informal. Também denunciaram a recente reforma trabalhista, que flexibilizou as normas de contratação e demissão.

Em um dos carros alegóricos, uma figura de "Drácula" ganhou os traços do presidente Michel Temer.

O protesto "é um caminho que as escolas retomam, porque têm um papel social: reivindicar a voz das pessoas mais pobres", disse à AFP o professor de história Leo Morais, 39, que interpretou o Dracula.

Para a segunda noite de desfiles, a Beija-Flor anuncia um enredo inspirado em "Frankenstein", "com reflexões sobre desgraças como a corrupção, violência e intolerância".

Fora do sambódromo, milhões de foliões brincam desde a última sexta-feira nos blocos de rua, que arrastam multidões pela cidade.

O carnaval também reúne milhões de pessoas em outras capitais do Brasil, como Salvador e Recife, onde a estrela é o folclore regional ao ritmo de blocos de samba-reggae, frevo e maracatu.

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