Inédito

Transexual vai dar nome a turma da tradicional Faculdade de Direito do Recife

Robeyoncé Lima foi também a primeira trans aprovada na OAB em Pernambuco

Adriana Victor
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Adriana Victor
Publicado em 12/07/2016 às 16:35
Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem
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É inédito: a tradicional Faculdade de Direito do Recife, instituição com quase 200 anos, terá o nome de uma transexual batizando a turma que concluirá o curso no mês que vem. Os alunos, que entraram na faculdade em agosto de 2011, serão formados na turma Robeyoncé Lima.

Negra, crescida na periferia do Recife, Robeyoncé, de 27 anos, deverá se acostumar com os ineditismos - ou com a tarefa de abrir portas: ela é também a primeira trans aprovada na OAB em Pernambuco. A conquista da carteira e do direito de exercer a advocacia chegou em janeiro, sete meses antes de concluir o curso, numa prova de fogo onde apenas 21% dos candidatos conquistaram a aprovação. Agora, a turma da qual faz parte decidiu, a partir de uma enquete, que ela deveria dar nome à classe. “Fiquei muito feliz com o reconhecimento”, confessa a homenageada. “É gratificante. E também é, explicitamente, um gesto político.”

A turma Robeyoncé Lima é festejada institucionalmente pela Universidade Federal de Pernambuco. “É algo que me emociona”, afirma Luciana Vieira, diretora LGBT da Universidade. “Ela é competente, foi reconhecida também por méritos acadêmicos. Mas, no momento político de retrocessesso que enfrentamos no País, especificamente na área de direitos humanos, trata-se de uma posição política das mais importantes”, avalia Luciana. A UFPE é a primeira instituição de ensino superior do Brasil a criar uma diretoria específica para tratar de questões relativas a lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros.

Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem
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Criado por decreto imperial, em 1827, o curso da Faculdade de Direito do Recife é, junto com o de São Paulo, o mais antigo do País. “Sim, o nome da turma será Robeyoncé Lima, não o nome de um jurista ou uma frase que questiona a diferença ou igualdade”, celebrou, em postagem nas redes sociais, Magnun Estalonne, um dos colegas de turma de Rob. “Nada mais questionador do que homenagear a primeira trans negra de periferia a ser aprovada na OAB, nada mais que respeito à diferença ao colocar o nome da transgressora numa placa e colocá-la ao lado de tantas outras que simplesmente não lutaram por igualdade, apenas por manutenção de privilégio.”

TRAJETÓRIA

Direito não será o primeiro curso superior de Robeyoncé Lima. Ela já concluiu Geografia, também na UFPE. Durante toda a sua vida escolar, estudou na rede pública de ensino de Pernambuco. Não chegou a conhecer o pai, viciado em crack; a mãe, por trabalhar fora, deixou a educação de Robeyoncé aos cuidados da avó. 

“Minha vida, quando eu era pequena, era de isolamento. Os livros passaram a ser a minha companhia”, revela. “Ninguém queria brincar com uma criança que era diferente.” A conversa com Robeyoncé aconteceu no programa EntrePapos, da TV JC, que está disponível na plataformas digitais do Jornal do Commercio.

Atualmente, ela conclui estágio na Justiça Federal de Pernambuco e planeja, quando formada, ser “uma advogada acessível a pessoas necessitadas”. E conclui: “a Constituição Federal diz que a advocacia é uma função essencial à justiça”.

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