"Foi a neta de Elizângela". O anúncio desesperador proferido por um vizinho no meio da rua após o tiroteio que vitimou a menina Stephanny, de apenas dois anos, ainda ecoa na memória da avó da criança que voltava da feira quando soube da tragédia. Dona Elizângela Maria da Silva teve cinco filhos, nascidos e criados no mesmo lugar: o bairro do Ibura, na Zona Sul do Recife. Nesta sexta-feira (4), aquelas ruas conhecidas se tornaram o afago para um choro inconsolável de quem perdeu o xodó da família - vítima da violência.
Stephanny estava com uma tia de 13 anos quando os tiros irromperam as esquinas da rua. Eram criminosos trocando tiros com a Polícia Militar. A menina - no meio do fogo cruzado - não conseguiu ser protegida pelos braços da tia e foi atingida com um tiro na cabeça. "Tirei as sandálias e subi essa ladeira correndo quando ouvi que minha neta havia sido baleada. Quando cheguei só vi minha filha toda ensanguentada e minha neta já tinha sido levada pela minha irmã", contou Elizângela em entrevista à repórter Clarissa Siqueira da TV Jornal.
Desesperada, a avó da garotinha pegou carona com um motociclista que a levou até o encontro com uma de suas filhas - a mãe da criança morta -, com quem tinha saído para fazer as compras. "Me encontrei com ela no supermercado e ela não conseguia acreditar. Fomos para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento de Lagoa Encantada), mas o médico disse que ela havia falecido", detalha.
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Diante da ausência de capacidade de trazer a vida da menina de volta, Elizângela chora. "Ela era muito sapeca, uma menina muito esperta", afirma lembrando de todas as vezes que a neta batia em sua porta e depois voltava para a casa da mãe dizendo "Mãe, cheguei". Cena que agora ficará apenas na memória e nunca mais será repetida pela garotinha.
"Respeita a criança"
Tentando encontrar forças para seguir, Elizângela reflete sobre o tiroteio. "Bandido ou polícia. Se tem uma criança deveriam respeitar", fala inconformada com a continuidade do tiroteio mesmo com crianças na rua. Para uma tia da menina que quis se identificar e que também foi ouvida pela reportagem da TV Jornal, o que resta é lembrar das "palhaçadas da menina que não viveu a vida" e que, antes de morrer, disse que "estava indo esperar a mãe voltar da feira".
Entenda o Caso
Stephany foi baleada na cabeça durante um tiroteio entre criminosos e policias militares que realizavam uma operação no bairro onde a garotinha morava. De acordo com informações preliminares, ela estaria na calçada com uma tia quando foi atingida. A menina chegou a ser levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Lagoa Encantada, mas não resistiu aos ferimentos. Procurada, a assessoria de imprensa da Polícia Militar não se pronunciou sobre a ocorrência até o fechamento desta matéria.