Atualizada às 19h54
O menino Caíque César Martins da Silva, 2 anos, morreu na madrugada deste sábado (1) depois de ser picado por um escorpião na cidade de Itambé (Zona da Mata Norte de Pernambuco). A criança brincava no quintal de casa quando retirou uns pedaços de madeira do lugar e foi picado no pé, no bairro de Luiz Gonzaga onde morava. A família da criança acusa os sistemas de saúde do município e do Estado pela demora no atendimento e por negligência. O enterro será realizado neste domingo (2), às 10h, no cemitério público de Itambé.
De acordo com a mãe de Caíque, Lívia Regina da Silva, 24, a criança foi picada por volta das 17h da sexta-feira (31) e foi levada para a Unidade Mista Doutor Hercílio Moraes Borba, no Centro de Itambé. Lá recebeu os primeiros atendimentos e foi encaminhado para o Hospital Belarmino Correia, em Goiana (Zona da Mata Norte). “Minha esposa contou que meu filho estava muito mal, vomitando sangue, mas não foi logo atendido a Goiana. Disseram que a pessoa responsável pelo atendimento estava jantando”, disse o pai da criança, Caio César Martins da Silva, que aguardava pela liberação de Caíque no Instituto de Medicina Legal (IML), no Recife.
SOCORRO
De Goiana, o menino seguiu para o Recife e chegou ao Hospital da Restauração por volta das 20h30. “Meu filho foi entubado e tentaram salvar, mas ele não resistiu. Morreu por volta das 4h30. Que situação é essa que estamos vivendo na saúde? Estamos falando da vida de uma criança. Se não tivessem demorado tanto ele não teria morrendo. Esses hospitais do interior não têm nada e a gente ainda é tratado como lixo. Minha esposa gritou, se estressou e ainda disseram que iam prender ela”, conta Caio, indignado.
Procurada pela reportagem, a Unidade Mista Doutor Hercílio Moraes Borba respondeu que não havia representantes da direção para prestar esclarecimentos sobre o caso. Também procurada pelo JC para responder pela unidade de saúde de Goiana, a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES) respondeu, por meio de nota, que "a direção do Hospital Belarmino Correia reconhece a passagem do paciente na unidade, mas informa que, ainda durante a entrada, diante da gravidade do caso, os médicos do serviço de socorro, que trouxeram o paciente de Itambé, optaram por levar o paciente para uma unidade especializada, o encaminhando para o Hospital da Restauração".
Depois, a SES informou que o menino não ficou no hospital porque a unidade não dispunha do antiescorpiônico. Por isso, os socorristas levaram a criança para o HR. Ainda segundo a secretaria, o Centro de Assistência Toxicológica de Pernambuco (Ceatox-PE), que funciona 24 horas e fornece informações e a lista dos hospitais que dispõe do soro não foram procurados sobre o caso de Kaique.
BALANÇO
O balanço do primeiro semestre de 2018 do Centro de Assistência Toxicológica de Pernambuco (Ceatox-PE), mostra que foram realizados 674 atendimentos envolvendo escorpião. Isso significa 63 casos a mais do que no mesmo período do ano passado. No levantamento, foi observado que o maior número de ataques está na faixa etária entre 1 a 4 anos (145). Ocorrendo o acidente, a indicação é lavar o local atingido apenas com água e sabão. Se a vítima for uma criança de até 12 anos, que tem risco de morte, pode haver indicação do uso do soro contra o veneno. Vale ressaltar que menores picados por escorpiões obrigatoriamente não necessitam tomar o soro específico, o que será decidido pela equipe médica do caso.
No Estado, o soro antiescorpiônico está disponível no Hospital da Restauração (Recife), Hospital Jaboatão-Prazeres (Jaboatão dos Guararapes) e Hospital João Murilo (Vitória de Santo Antão). No interior, nos hospitais regionais de Limoeiro, Palmares, Garanhuns, Arcoverde, Afogados da Ingazeira, Serra Talhada, Salgueiro, Ouricuri e Petrolina, além do Hospital Mestre Vitalino, em Caruaru.
Para evitar as ocorrências, a população precisa estar atenta com a concentração de entulhos e lixo próximo a residência, tapar buracos e frestas existentes, limpar constantemente ralos de banheiros, além de evitar a presença de baratas e outros insetos, principais presas do escorpião. Se a população observar presença do animal nas residências, é necessário entrar com contato com a vigilância ambiental municipal e solicitar uma visita ao imóvel.