Violência

Assassinato de fotógrafa em Serrambi expõe cultura do machismo

Decisão da jovem de encerrar um relacionamento amoroso custou-lhe a vida. Ela foi morta pelo ex-namorado com tiros na cabeça

Da editoria de Cidades
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Publicado em 14/10/2017 às 7:20
FOTO: JC IMAGEM
Decisão da jovem de encerrar um relacionamento amoroso custou-lhe a vida. Ela foi morta pelo ex-namorado com tiros na cabeça - FOTO: FOTO: JC IMAGEM
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Os tiros que atingiram a fotógrafa Paula Maria Alencar Régis, 20 anos, e sua família expõem, de forma trágica, a cultura machista que ainda impera na sociedade. Um crime motivado pelo sentimento de posse, que reduz a mulher à condição de objeto do desejo masculino. É como se elas não tivessem o direito de decidir quando colocar um ponto final em suas relações afetivas. No caso de Paula, essa decisão custou-lhe a vida.

“A mulher é vista como uma propriedade do homem. E na hora em que ele perde essa posse, ela não pode mais existir, nem para ela nem para ninguém”, afirma a educadora Simone Ferreira, do grupo SOS Corpo.


Contrária à ideia de crime passional, a feminista faz questão de reforçar que esse tipo de ação extrema não é motivada por amor, mas por violência, ódio e posse. “Cada vez mais, temos que desconstruir a percepção de que essas pessoas cometem isso por amor. Esse tipo de crime desumaniza a mulher, uma vez que ela não é vista como um ser humano, dona de suas vontades. O gatilho que dispara essa arma chama-se machismo”, avalia Simone.

Aline Silveira, uma das coordenadoras da rede colaborativa Mete a Colher, aplicativo que ajuda mulheres em relacionamento abusivo, chama atenção para outro ponto: o de não transformar o ex-namorado e autor dos disparos, o fotógrafo Paulo Roberto Correia da Silva, 30, em um monstro.

“O que ele fez não é motivado por doença ou um ato monstruoso. É fruto de um comportamento social, alimentado por um cultura patriarcal, onde a relação de poder coloca a mulher como propriedade do homem. É disso que precisamos falar. A dinâmica é sempre a mesma. Não se trata de um caso isolado”, observa.

Fruto da experiência à frente do aplicativo, Aline diz que um dos maiores medos das mulheres em encerrar uma relação abusiva é justamente o de sofrer represálias por parte do companheiro. “Muitas permanecem sofrendo os abusos por receio do que pode acontecer, caso elas terminem o relacionamento. Mas é fundamental denunciar as agressões físicas ou psicológicas sofridas. Por mais falho que seja o sistema de proteção, ele existe e pode ajudar as mulheres a interromper o ciclo de violência”, reforça.

ENTENDA O CASO

Revoltado com o fim do relacionamento amoroso, o fotógrafo Paulo Roberto Correia da Silva, 30 anos, matou a ex-namorada, o ex-sogro, baleou a ex-sogra e depois se matou, na noite de quinta-feira (12), em Serrambi, Ipojuca, Região Metropolitana do Recife.


De acordo com a polícia, Paulo Roberto cometeu o crime após a fotógrafa Paula Régis dizer a ele que queria se separar. O duplo homicídio seguido de suicídio aconteceu na casa da família da jovem.

Logo após matar a ex-namorada a tiros, Paulo matou o sogro, Ênio Regis, de 58 anos, e baleou a sogra, identificada como Suzana Alencar Fonseca, de 45 anos. A mulher foi atingida de raspão no pescoço. Ela foi socorrida para o Hospital Dom Hélder Câmara e passa bem, mas ainda não tem previsão de alta. A polícia ainda não sabe dizer quais as circunstâncias dos homicídios: se houve discussão antes ou se o suspeito já chegou na casa atirando.

Os corpos foram encontrados por policiais do 18º BPM dentro de casa. O caso foi registrado por policiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Após perícia, os corpos foram levados para o Instituto de Medicina Legal (IML), no Recife.

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