Há duas semanas a adolescente Erollainny Souza conversava com uma tia pelas redes sociais. Falava da vontade de voltar às aulas para cursar o sétimo ano do ensino fundamental. “Tia, eu não vou desistir. Um dia vou entrar na faculdade”, dizia. A garota de apenas 12 anos que foi uma das vítimas da chacina ocorrida em São José da Coroa Grande, Litoral Sul de Pernambuco, dia 17, é descrita pelos amigos e familiares como alegre, extrovertida, estudiosa.
Leia Também
Mas os sonhos da menina foram interrompidos na madrugada do sábado, quando estava com o namorado e mais três amigos numa casa na Ilha do Muruim, área de manguezal. Homens chegaram atirando e mataram duas pessoas do lado de fora e três (incluindo Erollainny) do lado de dentro. Tudo por causa da guerra pelo comando do tráfico de entorpecentes.
Inconformada, a mãe da garota, a cozinheira Juliana da Silva, pedia, desesperadamente, para que as autoridades olhassem para a comunidade. “Ninguém vê o que a gente passa. Saio para trabalhar às duas da tarde e só volto às dez da noite. Minha filha ia para a escola e, quando estava em casa, ficava sob os olhos da avó e das tias, que são vizinhas. Mas não tem ocupação para os jovens na cidade. Por isso perdemos nossos filhos para o tráfico. Depois vêm culpar os pais. Dizer que não cuidamos deles. Eu não aceito isso! Quem não cuida da gente é o Estado!”, dasabafou.
Na frente da casa, várias crianças olhavam, assustadas, algumas chorando, para a reação da mãe de Erollainny. “São todas amigas da minha filha. Aquela ali, aquela outra... apontava. Ela se dava bem com todo mundo. Quando eu ia às reuniões da escola, recebia elogios. Ela era muito estudiosa, sempre passava de ano. Estava empolgada para voltar às aulas...”, lamenta.
“Uma paixão por um rapaz levou a minha filha à morte. Ela não consumia drogas. Mas há cinco meses começou a namorar esse menino, colega dela na escola. Tentamos aconselhar, dizer a ela pra ficar junto da gente. Mas ela disse que na minha casa estava muito ‘presa’ e ia morar com o ‘amor da vida’ dela”, contou.
INSEGURANÇA
Tanto Juliana quanto outras mães da comunidade relataram as dificuldades para evitar que os filhos se envolvam com o crime. “Na frente da escola vendem drogas. Todo mundo sabe. E não há um controle das crianças e adolescentes. Eles entram e saem a hora que querem. Quando a gente pensa que os filhos da gente estão na aula, eles já saíram há muito tempo de lá e ficam pela rua. Nós trabalhamos. Como controlar?”, disse uma dona de casa. “Só não coloque meu nome no jornal, porque a gente se expõe e a polícia não protege. A cidade só fica cheia de viaturas quando acontece algum crime. Depois de uns dias vão embora.”