Saúde

'Insegurança nas cidades aumenta ansiedade, fator de risco para depressão', diz psiquiatra

Medo gerado pela insegurança pode favorecer o aparecimento de distúrbios de ansiedade e, consequentemente, quadros depressivos. Transtorno é tema de campanha da OMS

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 08/04/2017 às 19:29
Tato Rocha/JC Imagem
Medo gerado pela insegurança pode favorecer o aparecimento de distúrbios de ansiedade e, consequentemente, quadros depressivos. Transtorno é tema de campanha da OMS - FOTO: Tato Rocha/JC Imagem
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"O medo e a insegurança nas cidades aumentam na população os níveis de estresse e ansiedade, que são um fator de risco importante para quadros depressivos. Em países em desenvolvimento, esse cenário é muito crítico. Estimava-se que, apenas em 2020, a depressão seria o transtorno que mais causaria comprometimento, mas essa percepção foi antecipada”, frisou a psiquiatra Kátia Petribú, em entrevista durante o programa Casa Saudável, na TV JC, na sexta-feira (7), Dia Mundial da Saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) escolheu a data para estimular os países a chamarem a atenção para a depressão, com o intuito de derrubar o estigma associado a esse distúrbio democrático: não discrimina por idade, raça ou história pessoal.

Só no Brasil, a depressão acomete 5,8% da população (taxa ultrapassa a média mundial, de 4,4%) e, em todo o planeta, é considerada a principal causa de incapacidade. Os percentuais são da OMS. “Esses novos números são um sinal de alerta para que todos os países repensem suas abordagens à saúde mental e a tratem com a urgência que merece”, destacou, em comunicado, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan.

O depoimento retrata a necessidade iminente de se mudar um cenário preocupante: em regiões de baixa renda, menos de 1% da verba da saúde dos governos é investido em saúde mental. Nos países desenvolvidos, chega a 5%, o que ainda é pouco para um transtorno que prejudica relacionamentos, interfere na capacidade produtiva, diminui a autoestima e está associado a um risco aumentado de suicídio.

“Infelizmente apenas 15% das pessoas seguem em tratamento. Isso reflete o impacto do preconceito, da dificuldade de acesso a tratamento e da minimização do sofrimento até mesmo por quem tem depressão”, informa Kátia Petribú, que é presidente da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria (SPP). Professora da Universidade de Pernambuco (UPE), ela cita características que merecem ser consideradas. “Humor depressivo, perda de interesse pela maioria das atividades (sociais e profissionais), falta de concentração, dificuldade para iniciar e manter o sono são sintomas importantes.”

TRATAMENTO

Mesmo em intensidade grave, esses sinais podem ser dominados com assistência adequada, que inclui tratamento medicamentoso, terapias, realização de atividades físicas e adoção de hábitos saudáveis. A escritora Lana Valentim, 43 anos, é um exemplo de que é possível vencer a depressão, enfrentada há cinco anos.

“Vivia sem ânimo e tinha uma mente muito negativa. Passei nove meses isolada e escondida do mundo. Mas aprendi que, do mesmo jeito que a gripe precisa de tratamento, a depressão também. Ela é o câncer da alma”, diz Lana, que resolveu compartilhar seus sentimentos através da escrita. “Quanto mais colocava para fora, mais eu me sentia melhor. Isso me fez buscar ajuda. Tomei antidepressivo por seis meses, comecei a policiar meus pensamentos e a mudar a alimentação.”

No livro Caminhos de Lana – Como Venci a Depressão (Editora Carpe Diem), ela conta como escrever foi essencial para mantê-la conectada com o mundo. “As pessoas com depressão devem acreditar que podem superar (o transtorno) e dar um novo significado à vida”, ressalta Lana, que não tem dúvida de que vale a pena lutar contra o estigma.

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