Dor crônica

Veneno do escorpião pode tratar dores da chicungunha, diz pesquisa

Experiências clínicas foram demonstradas durante o 20º Congresso Brasileiro de Infectologia, que acontece no Rio de Janeiro

Cinthya Leite
Cadastrado por
Cinthya Leite
Publicado em 15/09/2017 às 11:14
Foto: Pixabay
Experiências clínicas foram demonstradas durante o 20º Congresso Brasileiro de Infectologia, que acontece no Rio de Janeiro - FOTO: Foto: Pixabay
Leitura:

Acidentes causados por mordeduras de escorpião em moradores de Independência, município localizado no Sertão do Ceará, levaram especialistas da Universidade Estadual do Ceará (UECE) a criar uma força-tarefa para investigar se a toxina encontrada no veneno do animal peçonhento pode ser útil para tratar as dores intensas nas articulações deixadas pela chicungunha. A doença é o ponto em comum entre pessoas da cidade que foram picadas e, logo depois, apresentaram melhora das dores insuportáveis que se arrastavam há meses devido à infecção pelo vírus. Os casos foram relatados durante o 20º Congresso Brasileiro de Infectologia, que termina nesta sexta-feira (15) no Rio de Janeiro.

“Após picadas por escorpião, essas pessoas referiram melhora do sintoma de dor crônica articular causada pela chicungunha. Duas mulheres foram atingidas (pelo animal) acidentalmente durante atividades domésticas. O companheiro de uma delas chegou a ir em busca de um escorpião para picá-lo, com o objetivo de se livrar da dor. Ficamos surpresos e preocupados. É um acidente que pode ter um desfecho grave e fatal. Então, não aconselhamos a busca aleatória pela picada. Ao mesmo tempo, estamos interessados na investigação”, informou o médico Érico Arruda, presidente da Sociedade Cearense de Infectologia e professor da UECE.

Onze profissionais (entre infectologistas, epidemiologistas, farmacêuticos e enfermeiros) fazem parte do grupo de trabalho dedicado a pesquisar o possível efeito do veneno do escorpião em pacientes com dores crônicas da chicungunha. “Sabemos que peçonhas (secreção ou substância venenosa encontrada em alguns animais) podem ter aplicabilidade do ponto de vista medicamentoso ou biomédico. A principal hipótese é que (a toxina encontrada no veneno de um escorpião) possa ter alguma ação anti-inflamatória capaz de diminuir a dor articular. Esse é o pressuposto mais fácil de ser levantado, mas é claro que há outras análises e estamos abertos a demais questionamentos”, explica Érico.

A rede de pesquisadores cearenses, chamada de Chikungunya versus Tityus stigmurus (conhecido popularmente como 'escorpião do Nordeste' por ser comum na região), faz atualmente um levantamento da literatura médica sobre o assunto. "Vamos ver, no Brasil, quem já realiza estudo sobre essa toxina e, em seguida, pensaremos num modelo experimental para investigar, in vitro (em laboratório), a atividade anti-inflamatória nas células. Depois, estudaremos em animais de experimentação. E o passo seguinte seria analisar a tolerância em pessoas sadias e a efetividade da (toxina) nos doentes. Isso demanda tempo e investimento alto", frisa Érico, com a certeza de que a investigação traz esperanças. "Estamos buscando alternativas para o alívio do sofrimento das pessoas com chicungunha crônica", conclui o médico.

* A jornalista viajou a convite da Sociedade Brasileira de Infectologia

Últimas notícias