Um dos representantes do grupo Vivencial Diversiones, Henrique Celibi fala da ironia, estética e história do grupo olindense que foi mundos transgressores da cena pernambucana.
JC – Como o grupo Dzi Croquettes influenciou o trabalho do Vivencial?
HENRIQUE CELIBI – Não acredito que houve alguma influência. O Grupo Vivencial era mais influenciado pelo trabalho do José Celso Martinez, do Teatro Oficina, e as obras do Oswald de Andrade do que pelo Dzis.
JC – Em quais fatores de estética e ideologia dialogam os trabalhos dos dois grupos?
HENRIQUE – Acredito que a estética da revista e os números de plateia eram próximos em irreverência. O teatro rebolado e as chanchadas eram a base dos dois grupos.
JC – Você percebe alguma reverberação do Vivencial na estética ou no estilo cênico de algum grupo pernambucano atualmente?
HENRIQUE – Minha opinião é muito pessoal, mas acredito que quem mais se aproxima é o grupo Magiluth.
JC – Como no Dzi Croquettes, o Vivencial tinha uma finalidade política para travestir-se. Como era essa relação entre teatro e política?
HENRIQUE – Os Dzis se travestiam no palco, e no Vivencial Diversiones existiam de fato travestis que viviam como mulheres e se portavam como tal. No Diversiones, Guilherme Coelho costumava repetir um texto em que diz: “O sonho é o projeto do prazer e que está na origem de todas as revoluções culturais. O direito de lutar pela felicidade até o fim é a única aventura que vale a pena ser vivida”. Vivíamos politicamente em uma “República Independente”, lutando por essa liberdade e vivência.
JC – O filme Tatuagem despertou novamente a imagem do Vivencial. O que você tem achado disso? E o que você pensa do Projeto Transgressão em Três Atos, que vai remontar uma peça do Vivencial?
HENRIQUE – Tatuagem tem uma atmosfera “Vivencialesca” e só. Acho o filme certinho demais, enquanto nós éramos muito mais anárquicos, tanto nos atos como nas ações e intervenções culturais. Mangávamos e debochávamos de tudo e de todos. Gosto do filme mesmo não sendo uma biografia do Vivencial. O filme é uma historia de amor... E em relação ao projeto Transgressão, eu gosto porque a memória brasileira sofre de amnésia crônica, e é muito bom saber do que foi feito no teatro pernambucano.