Janeiro de Grandes Espetáculos

A excelência da banalidade em A primeira vista, com Drica Moraes e Mariana Lima

Drica Moraes e Mariana Lima defendem duas extraordinárias mulheres comuns no Santa Isabel

Bruno Albertim
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Publicado em 24/01/2014 às 6:00
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Bruno Albertim
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Se elas representam algum arquétipo, é o da banalidade. Não ostentam nenhum talento ou qualidade especialmente emoldurável. São biografias pouco dignas de registro. Mas é na defesa dessas mulheres comuns que duas das atrizes mais maduras da geração a que pertencem, a carioca Drica Moraes e a paulistana Mariana Lima, vem colecionando elogios e prendendo atenções desde que A primeira vista estreou no Teatro Poeira, em 2012, no Rio de Janeiro.

Com direção de Enrique Diaz, um dos encenadores cuja inquietação chama atenção na produção nacional contemporânea, o espetáculo cumpre temporada, de hoje a domingo, na programação do Janeiro de Grandes Espetáculos. Como um dos destaques da maratona que chega ao fim neste final de semana, a peça ocupa o palco do teatro de Santa Isabel. “A mediocridade não existe, depende de como você vê”, disse, por telefone, ainda do Rio, a atriz Mariana, num intervalo raro de uma agenda de gravações para a TV fechada.

O texto é do canadense Daniel Maclovor, o mesmo autor do delicioso In on It (2009), já apresentado noutra edição do Janeiro de Grandes Espetáculos, com direção e atuação de Diaz e que rendeu a ele o Shell de Melhor Diretor e ao seu parceiro de cena, o de Melhor Ator. Vertiginosa, vários planos dramáticos, a peça trouxe os dois atores apresentando dez personagens em situações de perda e superações. O humor ácido, direto, como tônica na dramaturgia.

A primeira vista é também um labirinto verbal. No foco, amigas que se encontram, se afastam e se reencontram ao longo da vida, numa relação, segundo o argumento da peça, “caótica e hilariante”. "Gosto muito do texto dele, é um autor contemporâneo nos desdobramentos, temos uma afinidade muito grande na maneira como ele escreve o jogo de tempo e espaço, muito reflexivo, sobre o que forma em particular todos nós, o afeto, o amor, o além e todas essas conjunturas. É um autor apaixonante, essencial”, diz ela que, casada com Henrique Diaz, teve contato indireto com o texto do canadense quando o marido montava In on It.

As duas personagens chegam a montar uma banda, mal sucedida, de rock. Mulheres medíocres, de tão comuns. No que Mariana discorda. “São mulheres muito simples, com as quais as pessoas se identificam. Elas não me parecem nem banais, nem medíocres. Têm a excelência de serem normais, são personagens”
Mas não é exata - ou unicamente - a excelência da normalidade das personagens é o que interessa no texto. “É um jogo de espelho, duas mulheres comuns que dividiram momentos em comum da vida e se reencontram, com pontos de vista diferentes sobre a vida, os acontecimentos. Nos interessamos mais pelo jogo que pelas personagens”, diz a atriz que, nesse espetáculo, vive uma espécie de reencontro subjetivo. Amiga de longa data de Drica Moraes, é a primeira vez que contracena com ela. A peça aliás, foi bastante comemorada pela classe teatral, no Rio: marcou o retorno de Drica Moraes aos palcos depois de se afastar para tratar uma leucemia.

A Primeira Vista. Teatro de Santa Isabel. Dias 24 e 25 de janeiro (sexta e sábado), às 21h; dia 26 de janeiro (domingo), às 20h.Entrada: R$ 20,00 e R$ 10,00. 75 minutos de duração

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