As crianças já não estão barradas. Hoje à tarde, na abertura da 8ª edição do Palco Giratório, maratona que atualiza em panorâmica, na cidade, o teatro de grupo feito no País, o espetáculo O Mistério da bomba H ocupa o palco do Teatro de Santa Isabel. Fato que merece atenção: não apenas pela excelência com que o grupo mineiro Oriundo de Teatro costuma tratar suas montagens, mas porque teremos, na abertura do festival, uma peça infantil. Um sinal dos tempos, indicando que a era em que os infanto-juvenis não eram bem-vindos no palco mais nobre da cidade ficaram para trás.
“Foi realmente uma decisão política colocar um infantil na abertura do Palco Giratório, para mostrar a importância e força do gênero”, diz a coordenadora geral Galiana Brasil. “Ao observar a grade de espetáculos selecionados, percebemos que há vários outros espetáculos infantis e infanto-juvenis na programação e resolvemos evidenciar isso com essa montagem na abertura”, explica.
Quando a atual secretária de cultura Lêda Alves esteve à frente da gestão do Santa Isabel, os espetáculos infantis foram radicalmente barrados do teatro histórico da Praça da República. Mulher de teatro desde a juventude, a viúva de Hermilo Borba Filho temia que os pequenos usassem mal e, com chicletes e pouca etiqueta, pudessem danificar de alguma forma o patrimônio. “Não é muito lógico, como é que você vai pensar em preservação sem dar acesso para que as crianças possam conhecer e respeitar o patrimônio”, questiona Galiana Brasil.
Hoje, já não é assim. Embora com ações pontuais, escassas, o teatro feito para crianças e adolescentes voltou ao Santa Isabel. “Ano passado, conversei com a secretária Leda Alves para que possamos de fato receber bem os espetáculos infantis”, diz Rita Marise Farias, diretora do teatro. “Além do Palco Giratório, este ano, tivemos ano passado alguns infantis”, diz ela, informando que a capacidade de público é reduzida e normas de segurança especiais são adotadas quando o público é mirim.
Em vez de 700, apenas 470 lugares ficam disponíveis para a venda. Os lugares mais altos, nas torres do tereceiro e quarto andares do prédio, não são ocupados pelos pequenos. “É uma medida importante de segurança”, diz a atriz e produtora Edivane Bactista, responsável pelo Festival de Teatro Infantil de Pernambuco, realizado há mais de dez anos e com pautas já confirmadas no Santa Isabel na próxima edição, programada para acontecer entre julho e agosto. “Essa administração atual não tema a rejeião aos infantis. Todas as vezes que o festival procurou. O que falta é que o teatro abra espaço para temporadas mais longas”, diz ela.
“Os espetáculos infantis acontecem no Santa Isabel, mas de forma pontual”, diz o ator e pesquisador teatral Leidson Ferraz, fazendo coro à grita por temporadas mais longas. “Nunca teremos uma verdadeira formação de plateia se não tivermos a volta das grandes temporadas. Seria excelente se as sessões das 10 horas da manhã dos domingos voltassem a existir”.
BOMBA H
Surgido em 2007, o grupo Oriundo, conta, em O Mistério da bomba H, a história de um ator famoso em meio à ameaça de um atentado atâomico. Sem lições de moral rastairas, mas com reflexão social, personagens improváveis entram em cena. O espetáculo tem sessão às 16h de hoje e de amanhã, com entrada gratuita. a programação completa está no site www.palcogiratorio.com.br