Tão mitológico quanto sua obra para a história do povo brasileiro, o cantor e compositor Luiz Gonzaga vira e mexe é transformado em mote e norte de inúmeras obras artísticas, seja em música, no cinema e até nas artes cênicas. O apelo de suas narrativas, a figura emblemática que foi e a maneira popular de falar do povo nordestino e seus sentimentos são pano para as mangas de muitas criações nacionais e locais, como é o caso do espetáculo Lua Alegria, “ópera cordelista”, que estreia nesta quinta (10) no Teatro de Santa Isabel, às 20h, e fica em cartaz até domingo (13), o dia do aniversário do Gonzagão.
A montagem, com direção artística e dramaturgia de Paulo Matricó, une a ópera, uma tradição europeia, ao cancioneiro popular do Nordeste, na voz dos poetas cordelistas, cantadores e repentistas.
A narrativa parte de um suporte em rima, na qual um repentista, vivido pelo próprio Paulo Matricó, conta a história da vida do Rei do Baião. Entrelaçando com sua relação com o Sertão e a musicalidade sertaneja, Matricó também imprime elementos de lembranças universais de quem vive ou que tem acesso a esse universo tão bem cantado por Gonzaga.
“Em 2012, no centenário de Luiz Gonzaga, por eu ser sertanejo e fazer músicas antenado com a poética e temática do Sertão, desejei fazer uma homenagem a ele. Escrevi um cordel que foi lançado na Bienal do Livro de Brasília”, conta Paulo Matricó. “A partir daí tive a ideia de desenvolver o texto para não ficar só no livro. Pensei, então num musical, em que pudesse adaptar o texto do cordel com uma estética mais musical. Montei o espetáculo, encenado em Brasília, em 2013, e que apresentei, no ano passado, no Cais do Sertão”, completa o diretor.
O projeto, agora aprovado no Funcultura, ganhou nova adaptação e foi transformado em ópera. “É um espetáculo com elemento da ópera, mas contada pela ótica do cantador do cordel”, explica Matricó. “Contamos a história de Luiz Gonzaga com visão operística: canto, orquestra, dança e encenação. Narrando pelo cordel. São momentos importantes da vida de Luiz Gonzaga em cenas emolduradas por coreografias.”
Lua Alegria conta com 28 artistas em cena, entre eles 17 músicos, além de atores e dançarinos. A direção musical é assinada pelo maestro pernambucano Israel de França, com arranjos de Nilson Lopes.
Nenhuma música executada é de Gonzagão, todas são obras originais. “É um trilha sonora com música orquestral, mas com melodias na escala nordestina. As canções têm base nas toadas repentistas e dos cantadores de cordel, numa estrutura que caminha na direção do Armorial”, considera Paulo Matricó.