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Com Doroteia, Letícia Spiller faz seu batismo em Nelson Rodrigues

Espetáculo com Rosamaria Murtinho no elenco está em cartaz no Teatro RioMar

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 20/08/2016 às 0:40
Carol Beiriz / Divulgação
Espetáculo com Rosamaria Murtinho no elenco está em cartaz no Teatro RioMar - FOTO: Carol Beiriz / Divulgação
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Projeto encampado, o diretor Jorge Farjalla e Rosamaria Murtinho precisavam encontrar uma atriz para o papel que dá nome ao texto de Nelson Rodrigues. Não se fiaram apenas no talento que a fama supõe - e nem sempre confirma. Só depois de um teste, Letícia Spiller, frequente nas telenovelas e uma atriz de fome dramatúrgica acima da média, foi confirmada para o papel.


“A Letícia fez o papel com um brilhantismo tão grande que o papel foi dela tão logo terminou o teste. Além de uma atriz formidável, é uma pessoa de uma caráter extraordinário”, elogia a veterana. Letícia, por sua vez, encontrou na parceira de elenco uma referência. “Cada dia, me surpreendo mais com essa mulher, com a energia que ela tem. Nunca acreditei muito nessas coisas de prêmio, é meio que tudo meio que combinado. Mas fiquei triste de ela não ter sido pelo menos indicada ao Shell. Uma atriz incrível, com a coragem de não estar acomodada com o que faz”.


Aos 42 anos e no auge da beleza proverbial, Letícia Spiller faz também seu primeiro texto de Nelson Rodrigues. “Já tinha tido contatos mais rápidos, mas é a primeira vez que faço um texto de Nelson inetralmente. Apesar da complexidade, de nem sempre a gente entender de imediato a intenção da personagem, que se contradiz na cena seguinte, Nelson tem um texto que cabe na boca de uma atriz”.


A atriz chegou a chorar durante vários momentos de ensaio. “Depois da desconstrução, tudo parece mais simples. Mas, no começo, o texto era um enigma que fomos desvendando”, diz Letícia. Pauta em algumas das principais revistas de celebridade e amenidades do País, Doroteia tem também a primeira nudez da atriz em cena, suja de sangue, leprosa e despida na redenção final da personagem. “Isso chegou a ser bem comentado, mas a nudez, ali, não foi uma questão para mim. Está apenas no contexto dramatúrgico. As parentes a obrigam a destruir sua beleza para poder viver com elas. Essas primas são vítimas de uma maldição: não conseguem enxergar homens, só vivenciaram o sexo uma vez na vida, na noite de núpcias, e sentiram náuseas. Então, elas negam o próprio corpo, os sentimentos e o sexo. Para contar essa história, o ator André Américo também fica totalmente nu, sem nenhum tipo de pudor. E essa nudez, que de repente passa a ser enxergada pelas mulheres dessa família, desencadeia uma tragédia”.


Na montagem, diferentemente das anteriores, há um coro masculino materializado em “homens-jarro”. Executando ao vivo os sons e trilhas do espetáculo, esse coro simboliza os homens pregressos na vida de Doroteia. Além de Letícia e Rosamaria, o elenco de mulheres “interditadas” da família conta com Alexia Deschamps, Dida Camero, Anna Machado e Jaqueline Farias.


“Nelson, pra mim, é um divisor de águas. Queria muito trabalhar Lorca, que é muito próximo de Nelson no meu entendimento. Há frases que parecem inspiradas em Bodas de Sangue ou Yema, além do próprio fato de haver mulheres enclausuradas com repressão ao sexo”, comemora Letícia.
Dorotéia. sábado, às 21h, e domingo, às 19h. Teatro RioMar Recife. Informações: 4003-1212. Duração: 90 minutos. Ingressos: entre R$ 45 e R$ 120.

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