A sociedade brasileira está envelhecendo. O número de idosos no país cresce em ritmo mais acelerado do que a média mundial, segundo dados do IBGE. Mesmo diante desta realidade, uma situação é fato: assim como a sociedade ocidental, não sabemos lidar com a terceira idade, que ainda é cercada de mistificação. Por isso a importância de obras como a peça Aqueles Velhos de..., do argentino Sergio Mercurio, que trata do tema de forma sincera e é encenada a partir de quarta-feira (23), às 20h, na Caixa Cultural.
Último capítulo de uma trilogia sobre a terceira idade, iniciada por Velhos e seguida por Beatriz, ambos já apresentados no Recife, o espetáculo acompanha a relação de dois idosos, amigos desde a juventude. Um deles atravessa um gradual processo de perda de memória, o que motiva seu camarada a se mobilizar para preservar as lembranças que eles construíram ao longo da vida.
INVESTIGAÇÃO
Assim como nos trabalhos anteriores, Sergio, conhecido como El Titiritero de Banfield, utiliza a linguagem do teatro de bonecos para desenvolver suas narrativas. Seu teatro, há 25 anos, é voltado para a construção de histórias densas, pensadas para o público adulto.
“O tema da velhice sempre foi muito próximo a mim. Na infância, convivi muito com meus avós, com os vizinhos idosos. Eles sempre foram meus confidentes e eu sempre os ouvi. Então, para mim, é natural, mas percebi que a sociedade tinha duas posturas marcantes sobre o assunto: esquecer totalmente os idosos ou tratar como se carregassem uma certa culpa coletiva em relação ao tratamento que se desfere a eles”, explica.
Nesta obra, Sergio interpreta Juárez, que tenta auxiliar seu amigo Juanito – um boneco com dimensões humanas – a frear o esvaecimento das memórias e, para isso, utiliza desenhos para preencher esses vazios. Para ilustrar as lembranças, Mercurio desenvolve uma técnica de desenhar com erva mate, com os esboços feitos na hora.
“É uma história forte, de companheirismo e amizade na velhice. Não há comiseração, porque minha intenção é falar sobre esses indivíduos de forma sincera, sem isso de politicamente correto. Eles são pessoas lutando por suas vidas, por suas histórias e com traços adquiridos durante anos, que provavelmente não irão mudar. Quero investigar essa amizade na velhice, quando a morte é uma realidade tão próxima, na qual há tantas perdas”, reforça Mercurio.
