Nos últimos quinze dias, Recife e Olinda foram ocupadas por arte. Na rua, em espaços não convencionais e nos teatros, apresentações circenses, performances e peças teatrais levaram para as cidades pensamentos múltiplos, novas possibilidades de ver e interpretar o mundo. Um dos responsáveis por esse cenário foi o Festival de Circo do Brasil, cuja 13ª edição chega ao fim neste domingo (15).
A programação do dia começa cedo, às 10h, no Parque da Jaqueira, com apresentação gratuita de Jekyll on Ice, de Paolo Nani (Dinamarca). A montagem, com toques de nonsense, acompanha um sorveteiro que, buscando descobrir um sabor irresistível, acaba transformando-se em um roqueiro. Às 18h, a peça ganha sessão no Teatro Santa Isabel.
Ainda dentro das atividades ao ar livre, às 16h30 a Cia Brincantes de Circo faz intervenções de palhaçaria na Praça do Arsenal. Às 17h, os artistas da Trupe Carcará encenam Picadeiro Pernambuco – Tradição Milenar, no Teatro Hermilo. A montagem expõe diferentes técnicas e estilos circenses e é formada por artistas itinerantes que nasceram e cresceram nos picadeiros, perpetuando a alma familiar dessa arte.
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Encerrando a programação, a La Cascata Cia Cômica (SP) leva ao palco do Teatro Apolo o espetáculo Animo Festas. Voltado para o público adulto – a classificação é 16 anos – o trabalho do paulistano Marcio Douglas é marcado por um humor ácido, que dá novas camadas à figura do palhaço.
Ele interpreta o veterano clown Klaus, que narra lembranças de sua época como animador de festas infantis. O trabalho reflete sobre felicidade, sobrevivência e o valor da atividade artística.
As atividades ao ar livre são gratuitas e os ingressos para os espetáculos nos teatros custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
BALANÇO
Com o tema “Clássicos dos Clássicos”, o evento trouxe ao estado obras nacionais e internacionais que buscavam travar o diálogo com públicos diversificados, carregando em sua essência elementos atemporais, que ressaltam a resistência da arte circense. Algumas das obras, como a comédia The Letter, de Paolo Nani, que estreou em 1992, e os trabalhos dos argentinos Chacovachi e Maku Fanchulini são referências mundiais.
“A temática desta edição favoreceu para que trouxéssemos espetáculos de relevância, já estabelecidos, mas aos quais o público de Pernambuco não tinha tido acesso. Quisemos fazer um festival divertido, com obras mais palatáveis. Nada muito ‘cabeçudo’”, explica Daniele Hoover, produtora do festival.
Em sua 13ª edição, o festival conseguiu praticamente equilibrar o número de atrações nacionais e internacionais (nos primeiros anos, 90% dos artistas eram de fora). Segundo Dani, a razão é o aumento da profissionalização do país, com o surgimento de novos cursos e crescimento no interesse de artistas.
“Percebemos uma aproximação muito boa de artistas de outras linguagens, como teatro e música. Para a gente é muito interessante estimular esse intercâmbio entre as áreas porque dá dinamismo e ajuda a promover a arte circense em outras esferas”, reflete.
Para o próximo ano, ela adianta que a produção pretende investir ainda mais em workshops – este ano foram três, incluindo um intercâmbio. Uma das ideias é se aproximar dos artistas de rua, principalmente aqueles que trabalham nos sinais da capital pernambucana, muitas vezes sem formação.