Temporada

Fabiana Pirro vive, outra vez, Hilda Hilst

Atriz protagoniza o solo Obscena no Teatro da Caixa

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 15/05/2018 às 19:04
Renato Filho / Divulgação
Atriz protagoniza o solo Obscena no Teatro da Caixa - FOTO: Renato Filho / Divulgação
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Quase quatro anos após sua estreia, alguns meses depois de uma bem sucedida temporada no Rio de Janeiro e muitas vivências acumuladas, a atriz pernambucana Fabiana Pirro volta a apresentar ao público pernambucano seu bordado do universo e da personalidade da escritora Hilda Hilst. De hoje até o dia 26 de maio, sempre de quarta a sábado, o intimista Teatro da Caixa Cultural, no Recife Antigo, recebe o monólogo Obscena, um encontro com Hilda Hilst.

“É um monólogo, mas eu prefiro chamar de solo. Tem mais a ver com os embates, e remete também ao solar”, diz ela, que, para montar o espetáculo, ficou imersa por mais de uma semana com a dramaturga e diretora Luciana Lyra na hoje mítica Casa do Sol, em Campinas (SP), de onde Hilst propagou sua obra e via o mundo de um ângulo particularíssimo.

O espetáculo que agora volta ao Recife não é, como não poderia deixar de ser, o mesmo que se viu há quase três anos. “Perdi boa parte dos medos. Comigo e com a própria Hilda. A gente vai descobrindo coisas que o texto não apresentava logo no começo”, diz Fabiana Pirro. “Sem falar que teatro é um esporte, somos atletas de ideias e sentimentos. Quanto mais treinados, melhor estamos, mais íntegros”, diz a atriz que, depois da temporada recifense, vai percorrer praças como Curitiba.

Nesses três anos, Fabiana Pirro vem se consolidando como a atriz que dá voz, corpo e vazão de espírito a uma das mais controversas e só agora celebradas escritora brasileiras. Mas o solo não é uma biografia estrito-senso. “A própria Hilda dizia que para falar do outro, a gente tem que primeiro falar da gente”, ela diz. “Trago meus próprios questionamentos, minha experiência, a personagem é uma mulher de 40 e poucos anos, em sua relação com o mundo”, conta a atriz, que vai “bordando” à personagem exertos da literatura e da vida de Hilst.

BORDADO

Como na literatura da escritora, o fluxo da consciência na peça que transforma Hilda Hilst em personagem estrutura-se em fragmentos. Como vocativos e interlocutores, “Pai, Filho, Deus e o Amor” (tratado como singularíssima pessoa) são “as linhas grossas desse bordado”.

O projeto teve início, meio que por acaso, ainda em 2013. “Eu procurava, já há um tempo, uma mulher forte, intensa, para representar. Uma mulher que me ajudasse a dizer as coisas que eu quero dizer agora” diz a atriz, numa relação de encantamento existencial com o espírito de Hilda”. Um ano antes, Fabiana Pirro estava na Bahia, para mais apresentações de Caetana e Divinas, as impagáveis e picarescas comédias de palhaças na companhia da parceira Lívia Falcão quando uma curadora de literatura se aproximou da atriz. Queria saber se ela conhecia Hilda Hilst. A ideia era convidar a pernambucana para participar de uma leitura nos dez anos da morte da escritora.

“Eu só tinha lido uma coisa ou outra, sem muita atenção. Mas respondi logo: claaaaaaro, adoro ela!”, lembra Fabiana, rindo sempre do blefe que acabou por lhe apresentar à mulher hoje fundamental em sua vida. Como ponto de mutação, Hilda vem marcando a carreira de Pirro desde então. “Hilda Hilst é uma mulher que, como eu, tinha uma sede muito grande de conhecimento. Mais do que isso, uma mulher muito livre, que dizia tudo o que pensava, que teve a coragem de se afastar da sociedade paulistana para estar perto de si. A vida inteira dela é a busca pela liberdade. Eu adoraria ter a coragem de dizer essas palavras que ela dizia. Eu sou muito quieta, recatada”, compara-se a atriz.

Obscena, um encontro com Hilda Hilst. Caixa Cultural, Marco Zero, Recife Antigo. De 16 a 26 de maio (quarta a sábado), 20h. Fone: 3425-1915. 16 anos. Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia).

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