É das artes cênicas que vem o pontapé inicial da efervescência cultural do 28º Festival de Inverno de Garanhuns, que começa nesta quinta (19), a partir das 19h. Para a abertura, o espetáculo escolhido dá conta de um hibridismo de expressões artísticas, passando pela música, dança, teatro, cordel e cultura popular. Trata-se de Auê, montado pela companhia carioca Barca dos Corações Perdidos, dando vazão desde 2016 à autoralidade musical do grupo.
Em cena, sete homens, munidos com um arsenal de instrumentos, cantam sobre o amor. Sem cronologia, fios ou personagens, algumas canções e um cordel de dez minutos se comunicam, ficando a critério do público construir suas próprias narrativas através de pistas e retalhos, que vão das músicas até os movimentos no espaço cênico, em que o simples ato de trocar de instrumentos é expressado de uma maneira artística que foge do cotidiano.
Pela primeira vez para Pernambuco, Auê surgiu ainda durante a realização de outros projetos da Barca, como Gonzagão – A Lenda e Ópera do Malandro, ambos com direção de João Falcão. “Enquanto fazíamos os outros espetáculos, ficávamos ensaiando músicas. Éramos um grupo misto de atores e músicos. Chegamos a fazer saraus, até que tivemos a ideia de fazer um show. Durante os ensaios, fomos percebendo que aquilo poderia se tornar uma peça e que o maior prazer vinha de nossas músicas autorais”, explica o pernambucano Eduardo Rios, integrante do grupo.
Com as canções compostas, entrou a figura de Duda Maia, que já havia criado um vínculo com a Barca ao fazer a preparação corporal em Gonzagão, e agora passou a dirigir o grupo. Sem patrocínios, Auê foi montado no Sesc Copacabana e, a partir da segunda semana, formava filas e lotava o teatro todos os dias, ficando em cartaz de terça a domingo.
“Tivemos um impacto muito forte na cena do Rio de Janeiro. Não esperávamos isso, foi um acontecimento”, conta Rios.
Em sua execução, o musical equilibra a coletividade com as potencialidades individuais dos integrantes. “A gente sabia onde cada um poderia brilhar mais, que lugar seria mais desafiador para outro. Temos os momentos de grupo, de coro, mas também temos os momentos em que cada um sola sua canção, seja em um instrumento, cantando ou dançando”, diz o ator. Segundo ele, as pessoas do ramo musical ficam encantadas com a gama de protagonismos encontrada no mesmo trabalho.
No contexto de outros trabalhos da Barca, Auê é o que menos viaja, principalmente pela dificuldade em conseguir patrocínio para isso, pois, ainda que tenha feito uma temporada marcante no Rio, a montagem não conta com nomes de autores ou cantores conhecidos. No Nordeste, a montagem só teve uma apresentação, em Fortaleza.
“Eu acho muito inteligente da parte do FIG trazer esse espetáculo. Ele tem a facilidade de viajar para um festival, pois muito dificilmente ele consegue fazer uma turnê passando por Recife, por exemplo. Foi uma atitude bem generosa com o público que acompanha teatro, principalmente um público de festival, que sente a troca acontecer na cidade e fica com gana de assistir novas coisas”, afirma Eduardo. A apresentação será às 19h no Teatro Luiz Souto Dourado.
WAGNER TISO
Também começa hoje a excelente programação do Conservatório Pernambucano de Música dentro do FIG. A partir das 21h, na Catedral de Santo Antônio, o Wagner Tiso Trio traz seu repertório de arranjos sofisticados para música consagradas do cancioneiro nacional.
Quem comanda o trio, como o nome já diz, é o celebrado pianista do Clube da Esquina, mas as suas companhias são virtuosas como ele: o violoncelista Márcio Malard e violonista e guitarrista Victor Biglione. Os três passeiam na apresentação pelas influências da MPB, da música erudita e do jazz. Nos demais dias, a programação na catedral – sempre gratuita – ainda vai contar com Danilo Caymmi, Ná Ozzeti, Mônica Salmaso, Badi Assad e Francis e Olívia Hime.