teatro

Familiares e amigos se despedem de Cadengue

Corpo do dramaturgo foi velado no Teatro Valdemar de Oliveira na manhã desta quinta (2)

Rostand Tiago
Cadastrado por
Rostand Tiago
Publicado em 02/08/2018 às 18:44
Sérgio Bernardo/Divulgação
Corpo do dramaturgo foi velado no Teatro Valdemar de Oliveira na manhã desta quinta (2) - FOTO: Sérgio Bernardo/Divulgação
Leitura:

A manhã desta quinta-feira (2) encontrou as portas do Teatro Valdemar de Oliveira abertas, recebendo pessoas nas primeiras horas do dia, em meio ao movimento de carros nos arredores da Praça Oswaldo Cruz. O horário é pouco usual para a casa de espetáculos em um dia útil. Em cima do palco, sob uma luz tênue, havia o silêncio e rostos circunspectos de familiares, amigos e fãs do teatro que foram se despedir um dos nomes fundamentais não só na história daquele espaço cultural, como também na trajetória da cena teatral local e nacional – o diretor, escritor e professor de teatro Antonio Edson Cadengue.

As últimas homenagens à memória e ao legado de Antônio, falecido na madrugada da última quarta-feira (1/8), em decorrência de um infarto, somente poderia ocorrer naquele espaço que ele mais conhecia e se dedicava com paixão. “Ele talvez dirigisse essa ocasião se estivesse aqui. Direcionaria a luz, colocaria um Amazing Grace na trilha sonora. Vamos fazer de conta que ele está dirigindo”, afirmou o ator Paulo de Pontes, que prestou homenagem ao diretor após a cerimônia religiosa.

A sigla TAP – de Teatro de Amadores de Pernambuco –, estampa a entrada do teatro. O local é sua sede. Ambos têm na figura de Cadengue um agente essencial para sua entrada na historiografia das artes cênicas nacionais. “Nada seria mais justo e coerente do que sua ter sua despedida aqui. Ele escreveu sobre o TAP em sua tese de mestrado e doutorado, tinha uma paixão por esse lugar”, afirma Yeda Bezerra de Mello, membro do quadro administrativo do Valdemar de Oliveira.

Amigos, familiares e admiradores circularam pelo local trocando conversas que, apesar da dolorida circunstância, conseguiam trazer alento uns aos outros ao recordar Cadengue, seja dentro ou fora da vida teatral. Abraços longos e emocionados eram seguidos por palavras de conforto, mas também havia espaço para alguns risos, motivados talvez pela troca de memórias felizes ou apenas por encontrarem rostos amigos em um momento sofrido. Nomes como Lêda Alves, Alexandre Figueirôa, Hilton Lacerda e os professores do Departamento de Teatro da Universidade Federal de Pernambuco, do qual Cadengue era professor aposentado, Anco Márcio Tenório, Marcondes Lima e Luís Reis.

MEMÓRIAS E LEGADO

Um dos últimos trabalhos de Cadengue foi o livro Reinaldo de Oliveira: Do Bisturi ao Palco, um perfil biográfico do ator, encenador e médico cirurgião, que tem sua história intrinsecamente ligada ao TAP e estava presente na homenagem.

“Cadengue é um expoente da cultura teatral de Pernambuco, não só como pessoa em si, mas também com seu trabalho acadêmico nas artes cênicas. Eu, pessoalmente, sou muito grato a ele, da nossa convivência durante um ano, em que ele levantou aquilo que seria meu perfil. A participação dele no curso de teatro da UFPE e sua própria vida artística fazem essa tragédia ser mais forte e contundente”, diz Reinaldo.

Para Igor de Almeida Silva, professor de UFPE que teve a figura do diretor como namorado, mentor, mestre e amigo, uma das principais lições deixadas por Cadengue foi sua generosidade em diversos campos de sua vida. “Ele usava o teatro como um meio para expandir essa sua generosidade, sabia dialogar e ensinar de um modo humano, indo além do lado intelectual, incorporando sua alma artística no ensino”, conta Igor.

Antes de sua inesperada partida, o encenador deixa um último trabalho dentro da arte a qual dedicou sua vida. A montagem de Em Nome do Desejo, um dos marcos de seu repertório à frente da Companhia Teatro de Seraphin nos anos 1990 está pronta para ser apresentada. “Ele, que sempre batalhou pela dignidade de nossa arte, se mostrou aliviado ao deixar um filho pronto para o mundo, que teve seu último ensaio na última sexta. Seraphin vai continuar. Viva Cadengue e viva o teatro!”, concluiu Paulo de Pontes, que atuará na nova montagem, um último presente de quem tanto deu presentes ao teatro pernambucano.

Últimas notícias