Auto de Natal

Ensaio geral do Baile do Menino Deus encanta a todos pelo magnetismo

Baile do Menino Deus será apresentado no Marco Zero, de domingo a terça-feira, de graça

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 21/12/2018 às 21:31
Foto: Leo Motta/JC Imagem
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Há fenômenos no Recife que parecem ter existido desde sempre. Incorporado à paisagem artística da cidade, o Baile do Menino Deus é um deles. Criado há 35 anos como um auto de Natal que não se curva à estética yankee das neves e trenós, o espetáculo está há 15 anos no Marco Zero do Recife, cumprindo, deste domingo até o dia de Natal, sua temporada comemorativa.

Pelo que vimos no ensaio geral, nesta sexta-feira, o espetáculo mantém o magnetismo. Tem a força de uma liturgia. “É um espetáculo de fato vivo, que vai incorporando canções, cenas, sugestões”, pontua Ronaldo Correia de Britto, o diretor que, ao lado da produtora Carla Valença, vem ocupando o Marco Zero com o auto sobre dois intrépidos brincantes que, viajando pelas paisagens concretas e arquetípicas de um Nordeste de ascendência ibérica, moura, negra, mestiça, buscam encontrar a tríade que dá sentido ao Natal: José, Maria e o Menino Jesus.

“Temos também o orgulho de trazer e apresentar artistas que surgiram e cresceram com o baile”, diz Ronaldo Correia de Britto. Cantora e atriz que estreou, ainda menina, dez anos atrás, no coro, Isadora Melo é um dos exemplos. Sua interpretação de Maria é de uma delicadeza aguda e comovente. Bufões líricos, os atores que se revezam no papel de Mateus (dois por espetáculo) são de uma versatilidade que nos leva, em instantes, do riso às lágrimas também risonhas. Impressionante o virtuosismo e simbiose dos veteranos Sóstenes Vidal e Arilson Lopes e de Paulo de Pontes e Daniel Barros, dois grandes atores incorporados mais recentemente ao espetáculo.

Foto: Leo Motta/JC Imagem
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Apenas a presença cênica dos intérpretes sobre a dramaturgia sinuosa de Ronaldo e Assis Lima criada nos anos 70 sob inspiração do reisado justificaria o espetáculo. Há momentos em que o texto, além de celebrar o sagrado cotidiano, aponta para questões contemporâneas sobre a redistribuição dos papéis tradicionais da família. Como nas cenas em que José cuida, sozinho, do Menino Jesus. O espetáculo é dividido por ciclos com força de ritos: chegada, abertura das porta, louvação ao Divino, brinquedos e despedida.

Ao encontrar as portas fechadas de uma casa em que pretendem louvar o Divino, os dois Mateus incorrem em estripulias, entre cantos, danças e poemas, até conseguirem destrancar os donos da residência - e da festa. Com novos e afiados intérpretes, como Beto Ortiz e Adiel Luna, a música de Zoca Madureira sobre as letras de Assis Lima e Ronaldo promovem um caleidoscópio sonoro por ritmos que se confundem e fincam uma identidade pernambucana: ciranda, coco, maracatu, caboclinho, frevo de bloco, pastoril. Como cantor mestre de narrativas, Silvério Pessoa destila também a virtuose de sempre.

Composição do espetáculo

É um espetáculo grande, além de grandioso: mais de 300 pessoas compõem a equipe. A orquestra é formada por 16 músicos, coro adulto com 13 cantores, coro infantil com 12 crianças, corpo de baile composto de 11 bailarinos, e mais 7 atores e 10 solistas. “Não foi simples viabilizar este ano, mas estamos aí. E procuramos remunerar decentemente a equipe”, diz a produtora Carla Valença, sobre o orçamento de mais de R$ 1 milhão costurado por um mosaico de patrocinadores: Ministério da Cultura, Rede/Grupo Itaú, Prefeitura do Recife, Governo de Pernambuco, Aché Laboratórios, Tramontina, STN Nordeste, InBetta e Ferreira Costa.

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