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Exposição de Iezu Kaeru traz afeto em pedras

Na mostra que estreia nesta quarta (10), na Torre Malakoff, o artista pernambucano desconstrói a suposta frieza atribuída aos minerais

Renato Contente
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Renato Contente
Publicado em 10/04/2013 às 6:16
 Iezu Kaeru
FOTO: Iezu Kaeru
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Talvez seja possível afirmar que o coração do artista Iezu Kaeru é feito de pedra. Assim é percebido nas esculturas com rochas cuidadosamente empilhadas, nos muros onde ele descascou as camadas do tempo, nas fotos em que ele abre mão da cabeça de gente por uma de pedra. Mas ao invés da frieza que o termo pode inferir, o mineral que faz o coração do pernambucano é puro afeto. Na exposição Memória da pedra, aberta às 19h desta quarta (10) para convidados, na Torre Malakoff, o artista apresenta ao público um recorte de sua experiência íntima com as pedras, para ele, fragmentos do próprio ser.

A mostra conta com curadoria de Ricardo Peixoto, textos de Lourenço Mutarelli (escritor e desenhista) e Fernando Duarte (artista e secretário de cultura do Governo de Pernambuco), além de trilha sonora assinada pela banda Poruu. Ao todo, 122 fotografias (50 delas exibidas em monitores de vídeo), 20 esculturas e uma videoinstalação ocupam o térreo e o primeiro andar do espaço. Logo na entrada, antes do lance de escadas que dá na maior parte da exposição, o público é recepcionado por um totem de tijolos azuis-marinhos. “Se uma pedra cai, não é qualquer uma que se encaixa: elas têm que ter afinidade, equilíbrio”, explica Iezu.

Na série de fotos Eu pedra, o artista posiciona pedras (de gelo ou comuns) no lugar da cabeça, se inserindo na natureza que pedra e paisagem evocam. Em Pele do tempo, ele traz restos de um tronco de árvore torado (vista de cima, a madeira parece sangrar), folhas caídas no meio de pedras, muros sujos, infiltrados, repletos de musgo. “Tentei trazer às fotos superfícies que nosso olhar tende a rejeitar, mas está à nossa volta o tempo todo”, justifica. Dessa série, chamam a atenção as fotos com um rosto apagado (olhar de retrato antigo), decomposto progressivamente por camadas do tempo, reboco e tinta.

O diálogo com o ambiente urbano-poético se fortalece no conjunto de fotos Hieróglifos, que ocupa uma sala coberta por britas com um banco de pedra no meio. Seguindo o mesmo preceito das fotos com o rosto oculto, nessa série Iezu desconstrói e intervém em muros e paredes que um dia já foram base para anúncios lambe-lambe, papéis de “Procura-se” e caracteres de graffiti. Essas observações vêm sendo desenvolvidas pelo artista desde 2007, na Região Metropolitana do Recife. Em alguns casos, ele joga tinta em uma parede e volta ao longo dos anos para fotografar sua camuflagem. “Busco refletir sobre o momento em que vivemos: a cidade virou um canteiro de obras. No fim das contas, busco por mim mesmo por entre os escombros”.

A exposição ainda traz experimentações com o rock balancing (equilíbrio de rochas, em tradução livre), prática antiga que consiste em criar esculturas com pedras sem alterar sua forma. Com a técnica ancestral, o artista construi totens e Stonehenges pessoais. Com fotos, esculturas, vídeos e música, a mostra multimídia também apresenta trechos poéticos nas paredes. Entre versos assinados pelo poeta Manuel de Barros, o de um sem-terra anônimo sintetiza a presença quase imperceptível mas grandiosa das rochas: “A pedra é a testemunha da terra”.

 Iezu Kaeru
Série "Pele do tempo" - Iezu Kaeru
 Iezu Kaeru
Série "Pele do tempo" - Iezu Kaeru
 Iezu Kaeru
Série "Hieróglifos" - Iezu Kaeru
 Iezu Kaeru
Série "Hieróglifos" - Iezu Kaeru
 Iezu Kaeru
Série "Eu pedra" - Iezu Kaeru
 Iezu Kaeru
Série "Eu pedra" - Iezu Kaeru

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