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Reforma e projeto prometem nova vida ao MAC-PE

Museu de Arte Contemporânea, em Olinda, passa por obras emergenciais e aguarda projeto de requalificação

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 02/10/2016 às 5:00
Divulgação/ Fundarpe
Museu de Arte Contemporânea, em Olinda, passa por obras emergenciais e aguarda projeto de requalificação - FOTO: Divulgação/ Fundarpe
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Prédio inaugurado em 1765 para ser a única prisão eclesiástica de que se tem notícia na história do Brasil colonial, referência arquitetônica de Olinda, o Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, inaugurado em 1966 com a doação de parte da portentosa coleção do controverso Assis Chateaubriand, deve ser finalmente reaberto. Se o cronograma for respeitado, nos primeiros dias de janeiro o público pode ter acesso ao museu onde está guardada uma das mais valiosas coleções da arte moderna brasileira do século 20. “Tive que fechar o museu em março. Até a escada que dá acesso ao jardim, nos fundos, corria o risco de cair, tinha muito medo que alguém se machucasse”, diz a escritora Célia Labanca, diretora do MAC.

Desde que assumiu o museu, há nove anos, a diretora não via nenhuma obra de reparo. “Ainda não é o ideal, as dificuldades são muitas, mas, justiça seja feita, essa é a primeira vez, nesses nove anos, que uma gestão faz uma interferência importante no museu”, diz a diretora, comentando as obras, apenas emergenciais. O ideal, contudo, já está definido: a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) conta com um projeto de requalificação do museu, realizado pela construtora Concrepoxi a pedido da Sociedade dos Amigos do MAC e financiado pela Petrobrás (R$ 500 mil), com mudanças que somariam R$ 9 milhões. “Temos o projeto, mas não ainda o dinheiro. Vamos inscrevê-lo na lei Rouanet, tentar emendas parlamentares, tudo, enfim, para viabilizá-lo”, diz Márcia Souto, presidente da Fundarpe.

O MAC, aliás, já poderia estar aberto. Mas, quando teve início a primeira fase das obras de manutenção (cerca de R$ 87 mil, com recursos do Estado, para recuperação da coberta e sanitários, pintura da fachada, etc), depois do Carnaval, os operários constataram grandes rachaduras na parte anterior do prédio. 

Após um estudo técnico, o Instituto de Tecnologia de Pernambuco confirmou que a colina sobre a qual o museu está assentado está cedendo. “Descobriu-se que o terreno está afundando devido à ação de grandes formigueiros”, comenta a diretora. Com verbas já liberadas pelo Estado no valor de cerca de R$ 110 mil, as bases do terreno estão sendo refundadas; as varandas, pisos e paredes, recuperadas. Uma empresa local tem garantido a dedetização para manter o controle dos cupins comuns nos quintais de Olinda. 

Por enquanto, as cerca de quatro mil obras do acervo que conta com nomes como Portinari, Cícero Dias, Eliseu Visconti, Djanira, Telles Junior, Wellington Virgolino, Di Cavalcanti, João Câmara, Guinard, Adolph Gottielib, Burle Max, Francisco Brennand e Tereza Costa Rêgo estão amontoadas de forma inadequadas na atual sala da reserva técnica – com um telhado, aliás, sem forro, o que traz o risco potencial de goteiras. 

Mas o museu já conta com estantes corrediças especialmente desenhadas para a reserva de quadros, com capacidade de armazenamento de 70 metros. O mobiliário foi adquirido este ano para guardar o acervo que, sob nenhuma hipótese, pode ser menosprezado. Segundo o historiador de arte Emerson Oliveira, da Universidade de Brasília, o acervo do MAC seria o segundo mais importante entre os museus públicos da América Latina. “Eu recebo pedidos do mundo inteiro para expor aqui. Apenas a importância histórica do prédio já o coloca num patamar de grande importância. Infelizmente, não posso atender”, diz a diretora.

Quando o prédio reabrir as portas ao público, o MAC deve voltar a ter uma política de ações e exposições. “Devemos analisar nosso acervo, dividido em épocas que vão do academicismo francês até a contemporaneidade, para fazer pelo menos duas grandes exposições anuais”, diz a diretora, lembrando que o espaço batizado como Galeria Tereza Costa Rêgo é destino de exposições itinerantes. “Temos que retomar também as ações educativas, de formação, com alunos. Somos um Estado pobre, e não podemos perder a oportunidade didática que esse acervo pode oferecer à comunidade.”

Com a portas reabertas – e sem risco de desabar – o próximo passo do museu é tentar viabilizar o grande projeto de requalificação orçado em R$ 9 milhões. O museu ganharia um novo anfiteatro, uma passarela suspensa na área externa do jardim, uma loja-galeria para a venda de suvenires e objetos de arte, um café e até um outro anfiteatro na Rua 13 de Maio, na pracinha em frente ao museu, ao lado da capela construída para os antigos presos assistirem às missas das grades. Tudo isso colocaria o museu numa estrutura compatível a dos melhores do País. “Todas as intervenções arquitetônicas novas seriam feitas em aço e vidro, para não interferir na estrutura original do museu”, diz Márcia Souto. “Nossa missão agora é ir atrás desses recursos”. O futuro do museu de Olinda ainda passará, portanto, por vários pontos de Brasília.

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