PINHOLE

Fotografias de Isaias Belo revelam criação de Francisco Brennand

Com câmeras de lata, o fotógrafo registrou o nascimento da escultura da Imaculada Conceição e a construção de uma capela

JC Online
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Publicado em 05/02/2017 às 5:28
Isaias Belo/Divulgação
Com câmeras de lata, o fotógrafo registrou o nascimento da escultura da Imaculada Conceição e a construção de uma capela - FOTO: Isaias Belo/Divulgação
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O fotógrafo Isaias Belo é um apaixonado pela fotografia em lata. Como cresceu na UR7 da Várzea, vivia perto das matas do bairro, conhecidas como “as matas de Brennand”. E, claro, andava muito nos arredores da Oficina de Francisco Brennand. Certo dia, chamou atenção do artista ao promover, com garotos da sua comunidade, um mutirão de limpeza. Mais tarde, depois de fazer uma oficina de fotografia com outros meninos, os levou para tirar fotos da oficina. Brennand viu e convidou todos para mostrarem os seus trabalhos. Era o início de uma relação que faria Isaias ouvir do escultor e pintor: “Isso que você faz é pura arte”.

Já são mais de dez anos acompanhando e retratando com regularidade a produção e o cenário da oficina do artista pernambucano. Agora, Isaias se prepara para lançar o seu primeiro livro, Como uma Pedra, que registra e recria o processo de criação da escultura em pedra da Imaculada Conceição e da capela que a receberia. Todas as fotografias foram feitas em pinhole – quando não se usa lente para captar a luz, só um buraco em um objeto – e ganharam um ensaio feito pelo escritor pernambucano Fernando Monteiro. A edição da obra é de Mateus Sá, e o lançamento, ainda sem data, está previsto para depois do Carnaval.

Num depoimento que assina no livro, o próprio Francisco Brennand elogia o trabalho de Isaias. “Não me canso de dizer que se trata de um grande fotógrafo, um feiticeiro. Essa sucessão de sombra e luz recria uma realidade estupenda, isto é, um mundo onírico, de enquadramento perfeito”, escreve. 

PINHOLE

As imagens mostram desde o planejamento da obra, com o registro das maquetes da escultura e do cenário que receberia a capela, até o processo de construção e as versões finais. Como o pinhole precisa de vários segundos para abrir uma imagem, há pontos fora de foco e traços de movimento. Essas marcas da luz como algo vivo são justamente o que transformam essas imagens em algo maior que um mero registro.

Para Fernando Monteiro, as fotografias permitem redescobrir o mundo através da limitação, ou melhor, ver “a beleza de certas limitações”. “Através do trabalho de Isaias, vemos mais do que o mundo profano no qual existimos, ao descerrar-se uma espécie de realidade velada no cerne da manhã e no núcleo da tarde, no qual a luz declina como uma lição imemorável de passagem, brevidade, finitude das coisas que, em beleza, passam para sempre para cada um de nós”, aponta o escritor. “Este ‘silêncio’ que capta a câmera sem disfarces de Isaias (...) nos traz uma informação visual diferente, em parte por trabalhar diretamente com a luz, e em parte por estar atento para o tempo e a limitação das coisas ‘findas’ ou não.”

Esse não é o primeiro trabalho de Isaias com Francisco Brennand. Aquele encontro inicial rendeu, antes, um convite para acompanhar com sua câmera de lata da construção do Templo do Sacrifício. As fotografias deram origem a uma exposição com o mesmo nome, realizada em 2012. No entanto, desde 2006, Isaias observava, fotografava e recriava a Imaculada e a capela de Brennand – só em 2015 finalizou todo esse processo. Agora, já tem um novo plano. “Brennand me chamou para acompanhar a criação do memorial do pai dele. Vai ser um espaço fantástico, com vitrais, um maquinário impressionante de se fotografar”, diz Isaias. A parceria segue, informal e firme: “Tudo é espontâneo com Brennand. Ele não me contrata: só diz que vai começar um novo projeto e eu, daí, me viro”.

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