Um ano e três meses depois, a preciosa coleção do Museu do Mamulengo – Espaço Tiridá pode de novo ser vista pelo público. Após 90 dias de pequenas reformas e trabalhos de recuperação do acervo, o casarão da Ribeira, no Sítio Histórico de Olinda, teve nesta segunda-feira (15) as portas reabertas. “Acreditávamos que só conseguiríamos abrir o museu de novo em novembro. Graças a Deus, conseguimos fazer tudo em apenas três meses”, diz o professor de história da arte e antropólogo Luciano Borges, nomeado pelo prefeito, Professor Lupércio, como novo diretor do museu.
Para reabrir, o museu teve que ter o fornecimento de água religado, as paredes pintadas e cerca de cem lâmpadas substituídas. Ano passado, numa decisão unilateral, o então diretor do museu, Fernando Augusto Gonçalves, mandou encaixotar todo o acervo do museu e, nas salas de exposição, passou a exibir a coleção de alegorias criadas por ele para decorar diversos carnavais de Olinda. “Não há nada contra a exposição das alegorias, é até interessante para dinamizar o museu”, diz o atual diretor. “O problema é retirar todos os mamulengos de um museu que é dedicado a eles e transformar uma exposição temporária em algo permanente”.
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As várias queixas do público e de especialistas sobre a ausência do acervo original no museu acabaram por determinar a saída do antigo diretor pela atual prefeitura. Os quatro funcionários que tinham sido afastados ou pediram afastamento por discordar da linha administrativa da última gestão foram readmitidos. “É importante contar com essas pessoas, que têm experiência e grande ligação com a casa”, diz o novo diretor. “Em três meses, fomos apenas eu e eles que descemos todas as peças do terceiro andar para poder remontar o museu. Muitas peças estavam mal acomodadas e precisaram ser recuperadas, com tratamento contra polia e nova costura dos tecidos nas roupas danificadas”, diz o diretor. As peças da reserva técnica serão acomodadas em caixas de isopor para evitar a proliferação de cupins e pragas nos caixotes de madeira.
Depois de funcionar, desde inaugurado, no imóvel de número 59 da Rua do Amparo, com peças adquiridas de antigos mestres mamulengueiros pelo grupo Mamulengo Só-Riso, o museu precisou ser transferido, com nova inauguração em 2006, para o casarão da Ribeira. Rachaduras decorrentes da acomodação do terreno e águas subterrâneas comprometeram o funcionamento no antigo imóvel.
SÉCULO 19
Com peças que datam do século 19 até os dias atuais, o museu possui um acervo de cerca de 1,2 mil objetos. Apenas 400 ficam expostos em salas temáticas. Sobre o cangaço, o misticismo popular e os costumes e folguedos nordestinos, por exemplo. No térreo, uma das salas é dedicada às peças de mestres reconhecidos internacionalmente como Saúba, de Carpina, e Zé Lopes, de Glória do Goitá, um dos Patrimônios Vivos de Pernambuco.
“Além de grande artista, Zé Lopes é responsável por repassar os conhecimentos no que faz. Seu trabalho de manutenção do mamulengo é muito importante para estimular novos mamulengueiros”, diz o diretor. O acervo está também aumentado. No segundo andar do sobrado, cerca de 30 peças exibem o lado mamulengueiro de Manoel Salustiano, o mestre falecido em 2008, principal referência da rabeca e do cavalo-marinho de Pernambuco. A família doou cerca de 30 peças criadas por Salu ao museu. “É interessante pras pessoas conhecerem o lado mamulengueiro do Mestre Salu, muito pouco conhecido”, diz o diretor, diante das peças curiosas com personagens idosos, amputados e sobrenaturais. “Ele tinha uma visão de incluir minorias em seus mamulengos”. A exposição, temporária, será substituída pela de outro mestre.