Numa escadaria à beira do Rio Tâmisa, aparece a imagem de uma menina, fofinha como as de um antigo papel de cartas. Ela tenta alcançar o balão, provavelmente ganho num parque de diversões, depois que o vento o leva de sua mão. Por entre seu vestido negro, podemos, contudo, enxergar os contornos de seu frágil esqueleto.
A cena acima descrita é mais um dos grafites assinados por Banksy, um artista de rua que vem mexendo com a imaginação e os brios do mercado de arte não apenas de Londres, mas de grandes cidades do mundo, como São Francisco e Melborne. Os donos das grandes galerias dariam um dedo de menor importância para poder comercializar a obra de Banksy. Mas esbarram na mesma obsessão do público: saber quem ele é. Ninguém, até o momento, sabe exatamente quem é o artista.
Nesta sexta, 22, no entanto, a identidade pôde ter vindo à tona. Por um deslize.
Em entrevista ao podcast artista de hip hop Scroobius Pip, o DJ produtor musical inglês DJ Goldie teorizava sobre a contradição do grafite, valorizado como nunca no mercado e ainda estigmatizado socialmente. "Me dê uma bubble letter (tipo de letra, em geral, desprezada pelos artistas contemporâneos), coloque em uma camiseta, escreva 'Banksy', e estamos feitos. Podemos vender (...) Sem ofensa a Robert, o acho um artista brilhante, que virou o mundo da arte de cabeça para baixo", continuou.
Goldie pareceu ter ficado gelado de arrependimento, pausou a voz, logo depois que pronunciou a palavra "Robert". A mídia britânica não demorou a ligar os pontos. Banksy seria o músico Robert Del Naja, integrante da banda Massive Attack. A hipótese nem era nova.
Também conhecido como 3D, Robert Del Naja é amigo de Goldie - trabalharam juntos nos anos 1980.
Ano passado, o jornalista Craig Williams afirmou que Banksy não é uma, mas várias pessoas reunidas num grupo liderado por Robert Del Naja que, claro, despistou. "Banksy é um amigo, foi a alguns dos shows do Massive Attack. É só uma questão de logística e coincidência", disse ele.
DEPOIS DOS SHOWS
O fato é que os murais de Banksey costumam tatuar cidades do mundo por onde o Massive tem se apresentado. Seis grafites foram feitos em São Francisco, nos Estados Unidos, depois de concertos na cidade. Exista individualmente ou não, Banky ainda assinou o prefácio "3D and the Art of Massive Attack", lançado por Del Naja no ano passado.