O cemitério Senhor Bom Jesus da Redenção, mais conhecido como cemitério de Santo Amaro, foi construído em 1851. Desde então, a capital pernambucana sofreu drásticas transformações, às quais o espaço atravessou com outra dinâmica, como se operasse sob um ritmo próprio. Durante residência artística na Fundação Joaquim Nabuco, o artista plástico carioca Victor Mattina se propôs a imergir nessa cadência singular, experiência que resultou na exposição Luzia, que apresenta hoje, às 17h, na Galeria Massangana.
Sem conhecimento prévio do Recife, cidade que conheceu a partir da residência artística, Mattina havia pesquisado sobre o cemitério, mas deixou para desvendá-lo aos poucos. Em visitas, observou a arquitetura da área, prestando atenção nos detalhes mais vistosos, a exemplo das lápides e monumentos, assim como nas miudezas, como objetos deixados no chão.
“A configuração do cemitério não é muito usual no Brasil. Ele é um quadrado perfeito, com alas bem divididas, a capela no centro, com um planejamento arquitetônico claro. Porém, o mais interessante para mim foi poder tentar entender como ele se encaixava no conceito de Foucault de heterotopia – espaços que vivem uma lógica própria, quase removidas do tempo, como se, ao entrar neles, você se descolasse do entorno”, explica o artista.
O QUE FICOU
No local, tirou cerca de 1700 fotos e, a partir delas, começou, em seu ateliê no Rio de Janeiro, a desenvolver os quadros que compõem a exposição. Ao todo, são sete telas a óleo, em tamanhos distintos, que ele produziu a partir dos negativos das fotografias.
Na entrada da mostra, há ainda um áudio que evoca a ideia de demolição, de terra revirada, mar em dia de ressaca, som que acompanha o visitante no espaço expositivo.
Além das telas, o artista exibe ainda uma obra que reúne objetos encontrados no entorno do cemitério, como pedaços de vasos, porta-retratos, entre outros. Dispostos sobre uma superfície suspensa, elas trabalham uma ideia de arqueologia da memória, do corpo que não está mais lá, dos fragmentos que permanecem.