Triângulo Atlântico

Bienal do Mercosul aborda a migração em sua 11ª edição

Exposições reúnem 77 artistas, sendo 21 do continente africano, 19 do Brasil, 20 da América Latina, 11 da Europa e seis da América do Norte

Flávia de Gusmão
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Flávia de Gusmão
Publicado em 05/04/2018 às 16:49
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Exposições reúnem 77 artistas, sendo 21 do continente africano, 19 do Brasil, 20 da América Latina, 11 da Europa e seis da América do Norte - FOTO: Divulgação
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PORTO ALEGRE - A 11ª Bienal do Mercosul foi apresentada hoje (05/04) para a imprensa sob o tema O Triângulo Atlântico. A exibição, que ocupará cinco espaços na capital gaúcha e um na cidade de Pelotas, reúne 77 artistas, sendo 21 do continente africano, 19 do Brasil, 20 da América Latina, 11 da Europa e seis da América do Norte. As exibições, abertas ao público a partir de amanhã (06/04) e em cartaz até o dia 3 de junho, poderão ser conferidas no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), Memorial do Rio Grande do Sul, Santander Cultural, Igreja das Dores, Comunidade Quilombola do Areal e na Casa 6 (Pelotas).

Segundo o presidente da Fundação Bienal do Mercosul, o médico Gilberto Schwartsmann, os dois balizadores do evento foram "a independência curatorial" e a "liberdade de expressão", enfatizando que não é mais possível viver numa sociedade monocrática, na qual apenas uma forma de pensar é considerada válida. "Admitir que o outro pode pensar de forma diferente é o primeiro passo para exigir que o nosso pensamento seja respeitado".

Segundo Schwartsmann, os custos para a montagem da Bienal do Mercosul giraram em torno dos R$ 5 milhões, mas, num tom levemente impaciente, fez questão de deixar claro que a questão financeira não é a mais relevante quando se constrói uma estrutura como esta, que pretende comover, instigar, fazer refletir e ajudar a despertar as pessoas para a beleza e para as grandes questões que importam à humanidade. "O mecenato não é uma doação abnegada, mas fruto das leis de incentivo à cultura, e elas precisam existir em todos os níveis, municipal, estadual e federal", opinou.

O grupo Santander é o patrocinador master desta Bienal do Mercosul, que há alguns meses esteve ameaçada de não acontecer por falta de verba. Até por ser realizada na mesma capital onde foi montada a exposição QueerMuseum - suspensa um dia após sua inauguração por conta da pressão de alguns segmentos da sociedade - e por ter como principal mecenas a mesma instituição financeira, a pergunta era inevitável: "E se este novo conteúdo também incomodar?" Responde Gilberto Schwartsmann; "A Fundação Bienal tomou todos os cuidados para não ferir suscetibilidades, mas não podemos entrar na cabeça de cada um dos seus visitantes. Eles construirão suas próprias narrativas e tirarão suas próprias conclusões", considerou.

CONTEÚDO

Alfons Hug, curador-chefe, e Paula Borghi, curadora adjunta, formam a dupla que costurou a narrativa e a materializou através das as obras dos artistas convidados a compô-la. O "Triângulo Atlântico" ao qual se refere o título é aquele formado pelo espaço que preenche o "vazio" entre a América do Sul, América do Norte, Europa e África e pelo qual transitaram diversas correntes migratórias, a maioria sob a forma de diáspora provocada pelo escravizamento ou empobrecimento: 12 milhões de africanos, das mais diversas etnias, foram acorrentados e embarcados para o trabalho forçado; 60 milhões de europeus vitimizados pela fome, guerra ou perseguição política fizeram a travessia. "Usamos a representação do Atlântico como o maior e mais dramático celeiro de memórias. Como testemunha dessas grandes correntes migratórias e seus efeitos posteriores", resume Alfons Hug.

Hug assume a Bienal do Mercosul depois de ter conduzido uma das mais bem-sucedidas exposições este ano. Ex-África, montada no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, atraiu 200 mil espectadores em torno da produção de arte contemporânea pelas mãos de 18 artistas, jovens e intermediários, oriundos de oito países africanos. Paula Borghi é uma das criadoras do espaço independente Saracura, de artes visuais, localizado próximo ao Cais do Valongo. Esta área, no centro do Rio de Janeiro, foi local de desembarque e comércio de africanos escravizados, sendo redescoberta apenas em 2011, durante as escavações feitas para a reforma da zona portuária. Em 2017 recebeu o título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco.

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