Gastronomia do Norte do Brasil

Restaurante da Zona Sul do Recife traz a Pernambuco a boa comida paraense

A Casa do Pará, no bairro de Boa Viagem, oferece pratos típicos da região amazônica

Adriana Victor
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Adriana Victor
Publicado em 20/03/2015 às 6:54
Heudes Régis
A Casa do Pará, no bairro de Boa Viagem, oferece pratos típicos da região amazônica - FOTO: Heudes Régis
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É uma constatação que desconcerta: sabemos muito pouco sobre a cozinha brasileira, principalmente a de Estados que não são nossos vizinhos de porta. É o caso do Pará. Situação que se complica com a importância e ancestralidade de sua culinária, fincada nas raízes indígenas, a nossa matriz primeira, entre todas. Maniçoba, tacacá, jambu, tucupi – é tudo índio, é tudo nosso. No Recife, em Boa Viagem, a Casa do Pará, uma embaixada informal paraense, pode ser muito útil na deliciosa missão de desvendar a cozinha amazônica.

A regra aqui é mais sabor, menos luxo. O lugar muito simples fica quase escondido, numa galeria perto do Mercado de Boa Viagem. Mas aquilo o que é servido aos clientes justifica o fato de estar sempre cheio. “Começamos aqui com 11 mesas. Em outubro, aumentamos para 21, depois que os clientes passaram a se queixar da espera”, revela o paraense Marcus Bruno Nunes de Oliveira, 32 anos.

Junto com ele, o irmão, Caio, e principalmente, a mãe, Luzilda – é ela quem vai pra cozinha, bota a mão nos temperos, compartilha conosco o que aprendeu lá no seu Pará natal. Em 1998, dona Luzilda começou a vender açaí em casa, dentro da vila militar onde morava, em Boa Viagem. O boca a boca trouxe clientes e mais clientes. Há oito anos, o empreendimento caseiro virou negócio; mudaram-se para o ponto onde estão hoje. “Mas queremos abrir outro restaurante, em Candeias, ainda este ano. Em 2016, pretendemos chegar à Zona Norte”, planeja Bruno.

LÁ DO NORTE - O cardápio da Casa do Pará é enxuto. São 12 pratos principais – alguns saem por encomenda, como o pirarucu à casaca e o pato inteiro. O que sempre tem e que sempre deve ser provado: o tacacá (R$ 15). Vendido pelas ruas de Belém – assim como tapiocas no Recife ou Olinda e acarajés em Salvador – o prato é, em si, uma lição de gastronomia paraense. É uma espécie de sopa, cuja base é o tucupi, acompanhado por jambu e camarão seco, tudo servido na cuia típica da região. Pode vir com goma, o que deixa a consistência mais gelatinosa. O jambu – uma hortaliça, visualmente parecida com o manjericão – dá uma dormência gostosa na língua e provoca uma leve tremedeira nos lábios.

Ainda entre os pratos salgados e preferidos na casa estão aqueles feitos com carne de caranguejo – quem adora o crustáceo, haverá de fartar-se alegremente em uma visita ao Pará, vá por mim. O casquinho (R$ 14) servido por eles, na verdade, é uma considerável tigela, onde o crustáceo é alicerce. A sopa de caranguejo (R$ 13), delícia total, é quase um pirão. As porções são individuais, mas absolutamente generosas.

Campeão de audiência absoluto da Casa do Pará: o açaí. Vendido em três tamanhos (de R$ 12 a R$ 30), sai puro, com mel, com banana, com açúcar. Vem acompanhado por granola ou tapioca. Mas esqueça a nossa tapioca. Aqui, ela é, na verdade, uma farinha, em bolinhas graúdas, feita com a mandioca branca. “Há dias em que vendemos 500 tigelas”, afirma Bruno. Por mês, três toneladas de açaí são consumidas no local.

Para dar conta da demanda pelos pratos feitos com insumos paraenses, inicialmente, a família recorria a serviços de transportadoras. Há três anos, compraram caminhão próprio que faz, pelo menos, uma viagem ao Norte por mês. Além do açaí, eles trazem de lá a carne do caranguejo, peixes de rio como o supimpa filhote, e mais jambu, tucupi, cupuaçu, bacuri... Para os brindes, a Casa do Pará serve Cerpa e Tijuca, cervejas elaboradas com a água da Amazônia. Para a sobremesa, além de doces à base de cupuaçu e bacuri, sorvetes, claro, vindos lá da encantadora terra de Fafá.

 

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