CINEMA

James Franco decepciona com adaptação de romance de William Faulkner

As I lay dying foi exibido na Mostra Un Certain Regard

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 21/05/2013 às 16:54
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As I lay dying foi exibido na Mostra Un Certain Regard - FOTO: Divulgação
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Parece que o ator James Franco bebeu alguma coisa nos últimos tempos e acreditou que também poderia ser diretor. Alguém deve ter lhe dado uma camcorder de presente e o cara se danou a fazer filmes. Em Berlim, ele e um amigo, Travis Matthews, já haviam apresententado Interior. Leather Bar., um média-metragem que reconstituía 40 minutos de supostas cenas hardcore de Parceiros da noite (Crusing, 1980), o filme sobre o universo gay de Nova Iorque realizado por William Friedkin. Agora, em Cannes, Franco emplacou seu primeiro longa-metragem de ficção na Mostra Um Certain Regard. Trata-se de As I lay dying, uma adaptação do inovador romance de William Faukner, publicado em 1930, traduzido no Brasil como Enquanto agonizo.

Poucos vezes alguém começou uma carreira de diretor tão pretensiosamente como Franco. Além deste filme, ele já tem mais quatro engatilhados, prontos para sair de sua metralhadora giratória, sendo um deles uma biografia da juventude do escritor Charles Bukowski. Voltando a As I lay dying: poucas estreias foram tão frustrantes quanta essa. Quase nada do espírito do romance – convenhamos, uma tarefa inglória para o cinema, querer transportar para a tela experiências de linguagens de outras artes – pode ser visto no seu filme.  Afinal, ele reduziu o romance à sua anedota: a viagem de uma família pobre do Sul dos Estados para enterrar sua matriarca.

Enquanto cinema, é quase nulo, principalmente em sua tentativa de achar que um recurso como o split screen – a tela dividida – poderia ser considerado inovador. A telas se divide e ficamos sem entender qual seu sentido. Na maior parte das vezes, as imagens ora parecem perdidas, ora se digladiam para dizer nada. Nem mesmo os monólogos – a coluna vertebral do romance de Faulkner – são bem tratados por Franco, que parece ter copiado alguns linhas e dado para os atores declamarem de frente para a câmera.  A única coisa que se salva é o ator Tim Black Nelson. Sua versão do patriarca Anse é muito boa. Da prosódia sulista à boca desdentada e semi-aberta, percebe-se como ele criou os detalhes do personagem. No mais, As I lay dying é um exercício inócuo, um indício da presunção de James Franco como diretor.

O repórter viajou numa parceria com a Aliança Francesa.

 

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