O cineasta francês François Ozon voltou ao Festival de Cannes com um dos seus filmes mais inesperados. Nada indicava que ele desse uma guinada tão violenta em seu estilo. Em L´Amant Double, Ozon investe no thriller psicológico de alta voltagem erótica, como se vestisse a pele de um Brian De Palma ou mesmo um Paul Verhoeven.
É verdade que seu último filme exibido em Cannes, há quatro anos, já tinha uma pegada um tanto diferenciada. Em Jovem e Bela, o cineasta contava a história de uma adolescente que não se prostituía por necessidade, mas por prazer. Novamente, ele tem a colaboração da mesma atriz daquele filme, a bela Marine Vacht.
Agora com 25 anos, Marine interpreta uma jovem ex-modelo que sofre de constantes dores no estômago. Numa consulta, uma médica chega à conclusão de que o problema pode ser de ordem psicossomática. Assim, a moça acaba recebendo a indicação de um psicanalista para cuidar do seu caso.
Já nas primeiras consultas, Chloé, este é o nome da personagem, acredita que o Dr. Paul Meyer (Jérémie Renier) era o remédio que lhe faltava. Em pouco tempo, eles estão morando juntos e já pensam em se casar. Mas a paz tão esperada não chega à vida de Chloé, ao contrário, ela inicia uma obsessão em torno do marido, ao descobrir que ele tem um irmão gêmeo.
PERVERSÃO
Usando os mesmos expedientes de Brian De Palma, como telas divididas e muitos espelhos, Françoise Ozon se diverte – e também os expectadores – com o comportamento de Chloé e suas extravagâncias. As cenas de sexo, quando ela se envolve com o irmão de Paul, são acrobáticas. Com o marido, ela pede para inverter as posições quando passa por um sex shopping.
Com uma imaginação exacerbada, o cineasta leva a sério todas as loucuras da personagem. Marine, por seu lado, topa todas. Até um exame vaginal, na primeira cena do filme, que já desnorteia o público. A história tem como matriz o romance Os Gêmeos, da escritora americana Joyce Carol Oates, publicado sob o pseudônimo de Rosamond Smith. É totalmente pulp fiction, claro.
Certamente, L´Amant Double não é um tipo de filme que se vê frequentemente em festivais como o de Cannes, sempre orientado para privilegiar obras de arte conscienciosas e inflados de importância. Apesar de não se vislumbrar premiação, quem sabe se o presidente do Júri, Pedro Almodóvar, não veja nele ecos de A Pele que Habito, que ele trouxe para edição de 2011.