O segundo longa-metragem brasileiro em competição nas mostras paralelas do Festival de Cannes foi exibido anteontem. Abismo prateado, do cearense Karim Aînouz, representou o País na Quinzena dos Realizadores. Com a presença do diretor e da atriz Alessandra Negrini, a sala do Palais Stephanie, que fica dentro do Hotel Marriot, na Croisette, ficou pequena. Além da comunidade brasileira, muitos estrangeiros também viram o quarto longa-metragem do diretor.
Assim como seus dois últimos filmes – os expressivos Viajo porque preciso, volto porque te amo e O céu de Sueli –, Karim Aînouz confirma-se como um romântico incorrígivel. Como base na letra da música Olhos nos olhos, de Chico Buarque, ele conta a história de uma mulher abandonada pelo marido.
Sem qualquer aviso e depois de transar com ela antes de viajar, Djalma (Otto Jr) deixa um recado no celular de Violeta (Alessandra Negrini) dizendo que não ama e que vai morar na Patagônia. Desnorteada, a dentista sofre horrores sem entender o que aconteceu. Ela cai da bicicleta e se machuca, vai pegar um avião para Porto Alegre e não consegue, cai na balada e ainda conhece um pai e uma filha pequena que também foram abandonados.
É nesta grande jornada noite a dentro, como na carta de despedida escrita por Chico Buarque, que ela vai vislumbrar o que virá pela frente. Com uma grande performance de Alessandra Negrini, uma atriz que costuma se entregar de corpo e alma aos seus personagens, Abismo prateado propõe-se como uma alternativa para uma história conhecida.
O estilo narrativo de Karim Aînouz, geralmente estilizado, já é uma marca registrada do novíssimo cinema brasileiro. A câmera de Mauro Pinheiro Jr. é quase uma extensão da personagem. Como também o Rio de Janeiro, que é fotografado de uma maneira longe dos cartões postais.