O filme O palhaço, segundo longa-metragem dirigido pelo ator Selton Mello, ultrapassou a casa de 1 milhão de espectadores em sua terceira semana de exibição, com uma renda acumulada de R$ 9,8 milhões até o momento. Em cartaz nos cinemas do País, O palhaço tem roteiro do próprio Selton. Ele interpreta o artista circense desiludido Benjamin, que forma a dupla Puro Sangue e Pangaré, com o pai, Valdemar (Paulo José). O mineiro Selton Mello, 38 anos, está entre as figuras mais representativas do cinema brasileiro atual. Reconhecido talento no cinema e na TV, ele surpreendeu a todos com o longa Feliz Natal (2008), um duro retrato sobre a vida familiar. Se a franqueza do relato, por um lado, impediu que um público maior tivesse acesso ao seu primeiro filme, por outro, foi um cartão de visitas em que ele mostrava credenciais de qualidade. A confirmação de que Selton não era apenas uma promessa está presente em O palhaço da primeira à última cena. Quando participou do IV Paulínia Festival de Cinema, no último mês de julho, o filme agradou ao público e ao júri oficial, que lhe concedeu quatro prêmios: melhor direção (Selton), melhor ator coadjuvante (Moacir Franco, numa ponta impagável com um delegado), figurino (Kika Lopes) e roteiro (Selton e Marcelo Vindicato). O tema das relações familiares não está dissociado da trama de O palhaço, mas o que está mais em evidência é a homenagem aos artistas de circo. Os dois personagens principais, Benjamin (Selton) e Waldemar (Paulo José), pai e filho, que vivem a dupla Pangaré e Puro sangue, têm raízes em palhaços reais. “Eles foram inspirados em dois grandes artistas: Benjamin de Oliveira, um ex-escravo que virou um dos mais importantes profissionais do picadeiro, e Waldemar Seyssel, mais conhecido como Arrelia”, conta Selton. A história dos dois personagens e a maneira como ela é narrada por Selton Mello não poderiam ser mais singelas. Para chegar a tal nível, o diretor fez escolhas muito específicas e que nem sempre são captadas à primeira vista. A mais sutil delas é o ambiente temporal do filme, situado em algum ponto incerto da década de 1970. Outro é o humor minimalista, bem ao gosto do finlandês Aki Kaurismaki, de Um homem sem passado (Mies vailla menneisyyttä, 2002). Assim, não espere nada perto do humor grosseiro da TV. Durante as visitas às pequenas cidades do interior mineiro, onde obrigatoriamente são recepcionados pelos prefeitos locais, a trupe do Circo Esperança tem um sobressalto quando Benjamin tem um surto e acredita que perdeu a graça. Mas, ao abandonar o circo e começar a ter outras necessidades, como conseguir um emprego, por exemplo, ele descobre que não tem identidade, CPF e comprovante de residência. Durante entrevista no Festival de Paulínia, Selton afirmou que O palhaço era um filmes sobre “a busca da identidade”. Para ele, o personagem precisava fazer esse movimento inverso, de andar na contramão, que é próprio do artista circense. “Benjamim se afasta da vida no circo para perceber que a arte dele, ser palhaço, é nobre”, explicou.