Cinema

As estradas de Walter Salles são desvendadas em livros

O jornalista Marcos Strecker desvenda a obra, vida e as razões que levaram a grande parceria do cineasta brasileiro e de Francis Ford Coppola

Beatriz Braga
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Beatriz Braga
Publicado em 13/07/2012 às 6:18
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O jornalista Marcos Strecker desvenda a obra, vida e as razões que levaram a grande parceria do cineasta brasileiro e de Francis Ford Coppola - FOTO: NE10
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A estrada à sua frente e uma vida para trás. A regra: o destino não importa. A jornada, sim. Caminho aberto e o mundo distante, é preciso olhar as margens. Afinal, é ali onde os personagens se encontram. Filmes On the road (estilo cinematográfico que inclui cenas de viagens) são como o jazz, diz Walter Salles, 56 anos. “Quanto melhor é a melodia, mais fácil é improvisar e se afastar dela. Porque também é mais fácil retornar a ela”. Com a chegada do seu novo filme, Na Estrada, o cineasta brasileiro só reafirma seu nome como um dos grandes entusiastas do estilo.

Para registrar todas as estradas que o levou até ali, o jornalista Marcos Strecker lançou o livro Na Estrada, o cinema de Walter Salles (Publifolha, R$ 50, 335 páginas) – de 2010 e relançado este ano devido ao filme. Uma gostosa viagem por todos os caminhos do cineasta: filmografia, infância, escritos, influências, projetos não realizados e Brasil.

Quando Marcos escreveu o livro ainda não era certo do novo filme ser lançado. Mas o seu projeto já era, desde já, digno de nota. Acontece que o “pai” do cinema moderno americano, Francis Ford Coppola, escolhera um brasileiro para produzir uma de seus preciosos projetos: a transformação em filme da bíblia da geração beat, On the road (Pé na estrada, de Jack Kerouac.

A união Coppola e Salles foi pensada com cautela pelo que fez o convite e pelo o que, enfim, aceitou o desafio. O livro de Marcos desvenda o que fez de Walter o nome certo para essa escolha. Além disso, apresenta o cineasta como um mestre involuntário de grandes feitos, como a renovação cultural do cinema brasileiro depois de uma crise produtiva nos anos 90 (pós-ditadura e decepção Collor) representada pela estreia do filme Central do Brasil (1997), também enquadrado nos filmes de estrada. Caso que, inclusive, se assemelha com a própria trajetória de Coppola nos ano 60 e 70, quando “tirou o cinema americano da UTI” com O poderoso chefão.

E se o encontro com Coppola diz muito de Walter, o cineasta Wim Wenders, 67, guarda um papel ainda mais revelador.Seus filmes Alice nas cidades e No decorrer do tempo (ambos do estilo road movie) foram grandes influências na carreira de Walter. Além disso, Wenders também recebeu um chamado de Coppola, por sua vez na década de 80, para dirigir Hammet. Uma adaptação do romance escrito pelo americano Dashiel Hammet. O resultado, no entanto, não foi dos esperados. O próprio Coppola resumiu: “o pior filme já feito na história do cinema”.

Mais de vinte anos depois do episódio, Walter volta aos Estados Unidos na mesma intenção de Wim: desbruçar-se nos Estados Unidos e reinterpretar um ícone da cultura americana. O livro de Marcos traz uma deliciosa conversa entre duas gerações, Walter e Wim falam sobre a experiência Coppola.“Eu vi que não só não conseguiria fazer um filme americano, mas também nunca me tornaria um americano”, conta o veterano. "Sei que Francis (Coppola) não é mais o produtor teimoso que costumava ser (...) O filme não fracassou por minha causa, mas porque Hollywood inteira não queria que ele desse certo”, continua.

Desejo de coração que você faça (o filme Na Estrada).Ao mesmo tempo conheço as armadilhas e não quero que você caia nelas, ainda que algumas já pertençam ao passado

Quando o jornalista aproveita a brecha para fazer a comparação das obras de ambos cineastas, Walter revela sua modéstia. “Fico um pouco tímido em falar disso”, diz ao explicar que o homem ao seu lado, ali, tinha sido uma das razões do seu desejo de de fazer filmes. “Acho que posso falar sobre o que aprendi assistindo esses dois filmes (Alice nas cidades e No decorrer do tempo): em cinema o que é invisível é mais importante do que o visível. O que se sente é mais importante do que aquilo que se verbaliza. A proximidade que senti com esses personagens foi maior do que já tinha sentido em cinema”.

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