CINEMA

Steven Spielberg faz biografia monumental de Abraham Lincoln

Lincoln concorre em 12 categorias do Oscar 2013

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 24/01/2013 às 6:00
Fox Filmes/Divulgação
Lincoln concorre em 12 categorias do Oscar 2013 - FOTO: Fox Filmes/Divulgação
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Numa conversa casual com a esposa, Mary Todd, pouco após a aprovação da 13ª emenda constitucional, que põe fim à escravidão nos EUA, além de apressar o término da Guerra Civil, em abril de 1865, o presidente Abraham Lincoln confessa o desejo de conhecer a Terra Santa (Jerusalém). Essa aproximação com histórias bíblicas – além do nome, o presidente deixou também como legado uma aura de santidade –, é apresentada por Steven Spielberg numa das primeiras cenas de Lincoln (2012), que estreia nesta sexta-feira (25/01) no Grande Recife. No longa-metragem, o 27º dirigido pelo cineasta para o cinema – e que se encontra na pole position do Oscar 2013 com 12 indicações, entre elas as de Melhor Filme, Diretor e Ator (Daniel Day-Lewis, irrepreensível) –, Lincoln é mostrado de costas, como um deus que ouve pedidos, censuras e lamentos de seu rebanho.

Só agora, aos 66 anos, é que Steven Spielberg demonstrou estar preparado para realizar este ambicioso retrato dos últimos quatro meses da vida do presidente Abraham Lincoln na Casa Branca. Ao contrário de alguns de seus filmes mais conscientizadores, às vezes prejudicados por excessos melodramáticos, Lincoln é de longe seu trabalho mais sóbrio e atento ao que é essencial. Portanto, o que é preciso saber sobre a maior aventura do presidente, o fim da escravidão e da Guerra Civil, está presente.

Para arejar a memória de quem pouco conhece a história americana, Spielberg acrescentou algumas frases explicativas na abertura das cópias exibidas no estrangeiro. Quase sem pausa para respirar, ele faz de Lincoln um filme de guerra com palavras ao revelar como o presidente se esforçou para angariar os votos que faltavam à aprovação da 13ª emenda. A despeito de sua grande quantidade, as cenas de bastidores da votação se sucedem com a inexorabilidade dos fatos que levaram à libertação dos escravos.

Em algumas momentos, quase prestes a deixar o espectador perdido em meio às picuinhas entre republicanos e democratas, além das tramoias das facções internas, que ainda lutavam para manter a escravidão, Spielberg e o roteirista Tony Kushner intercalam cenas de humor preciosas, a maioria delas envolvendo o lado contador de causos de Lincoln. Entretanto, a dupla nunca abusa desse alívio cômico. Ao contrário, para tornar o quadro ainda mais complexo, eles acrescentam cenas domésticas entre Lincoln e sua mulher, a combativa Mary Todd. Elas ajudam a tornar a figura esguia e esquálida do presidente ainda mais humana – um homem comum, que cria dois filhos e ainda lida com os altos e baixos de Mary, que também se preocupava com os destinos dos negros e da nação.

Escorado numa apurada reconstituição de época, o filme se passa entre salas e quartos sombreados pelo lusco-fusco das luzes tremeluzentes dos lampiões da Casa Branca. São essas sombras, monitoradas por Janusz Kaminski, fiel colaborador de Spielberg, que dominam e engrandecem o elenco de Lincoln. Afinal, para um filme que dependia tanto das palavras, a responsabilidade teria que recair sobre grandes atores. Daniel Day-Lewis e Sally Field, que interpretam Lincoln e Mary Todd, estão quase fantasmagóricos em seus papéis. Além deles, ainda brilham Tommy Lee Jones, David Strathairn, Hal Holbrook e James Spader. Sem facilidades, Spielberg fez de Lincoln um filme que já nasceu monumental.

Leia a matéria completa na edição desta sexta-feira (25/01) no Caderno C, do Jornal do Commercio.

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