CINEMA

Documentário capta grandiosidade de Francisco Brennand

O longa-metragem ganha exibição no Cinema da Fundação

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 22/03/2013 às 6:00
Mariola Filmes/Divulgação
O longa-metragem ganha exibição no Cinema da Fundação - FOTO: Mariola Filmes/Divulgação
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O documentário Francisco Brennand, de Mariana Brennand Fortes, que estreia nesta sexta-feira (22/03) no Cinema da Fundação, se propõe uma tarefa hercúlea: transferir para o cinema o universo de um artista plural e gigantesco, cuja obra vem sendo erigida em mais de 60 anos de dedicação exclusiva às artes plásticas e à literatura de cunho confessional (os diários de Brennand, ainda inéditos, costuram o filme de ponta a ponta).

Com a intimidade de quem teve acesso irrestrito ao seu objeto, Mariana parte do geral para o particular ao construir o retrato de Francisco Brennand, que completa 86 anos no próximo mês. Ao adentrar uma estrada de barro, em direção à oficina da Várzea, somos levados a fazer uma viagem para um mundo regido por um artista único. Ele é o senhor da “cidadela sitiada”, como se refere ao complexo de uma antiga olaria, criada pelo pai e que foi transformada em instalação e galeria a partir do início da década de 1970.

Para tanto, duas correntes narrativas se superpõem no documentário: enquanto Brennand explica com argúcia o processo criativo de suas esculturas e pinturas – uma produção que considera pouco valorizada –, citações do seus diários, na voz da atriz Hermila Guedes, dão vazão a preocupações metafísicas da sua existência, como o legado de sua obra e a presença da morte.

O texto de Rafael Lessa, compilado a partir das elucubrações de Brennand, revelam um artista com um mundo interior em eterno processo criativo. Apesar de já estar com 80 anos durante as filmagens, a idade nunca foi problema para ele; “Não me preocupo porque somos vários”, confessa.

Com desenvoltura e raciocínio cristalino, Brennand se mostra um homem bem humorado, mas que não esconde uma tendência à autoglorificação, numa demonstração de que seu ego é proporcional às suas ambições como artista e intelectual. Além da apresentação de suas obras – recentes e de fases mais antigas –, o documentário é quase uma aula sobre o que ele faz, apesar de não ser nem um pouco didático.

Brennand não esquece de pagar tributo às pessoas que mais o influenciaram. Talvez os momento mais tocantes, onde mais se abre intimamente, sejam a leitura da carta do pai ou quando se refere ao pintor Paul Gauguin, outro artista recluso, ao reproduzir o nome de uma das mais famosas obras do artista francês, o mural De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?

Bem elaborado, o documentário se destaca não só pela maneira como articula o discurso de Francisco Brennand – como a revelação de sua relação com jovens modelos que lhe serviram de inspiração, por exemplo –, mas igualmente pela excelência de sua realização. 

Entre os vários destaques de Francisco Brennand, vale ressaltar a direção de fotografia de de Walter Carvalho (toda captada com luz natural), a trilha sonora de Lucas Marciere e a montagem sem arestas de Lívia Arbex.

Leia mais sobre o documentário Francisco Brennand na edição desta sexta-feira (22/03) no Caderno C, do Jornal do Commercio

 

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