Desde que Jim McBride fez A força do amor (Breathless), uma personalíssima versão de Acossado (A bout de souffle), de Jean-Luc Godard, os cinéfilos não estrebucham tanto. O motivo é o RoboCop reciclado pelo cineasta brasileiro José Padilha, feito a partir do original de Paul Verhoeven, um ícone do cinema americano dos anos 1980. O filme estreia nesta sexta-feira (21/02).
Antes de mais nada, um remake é, obviamente, sempre um outro filme. Nem Gus van Sant, que tentou copiar Psicose (Psycho) plano por plano conseguiu fazer um filme igual ao original de Alfred Hitchcock. Então cada qual em seu quadrado.
No caso de RoboCop, as diferenças aumentam ainda mais em função da personalidade de seus diretores. Anárquico e furioso, o holandês Verhoeven se impõe inteiro em seu filme, enquanto Padilha, compenetrado e metido a sociólogo, também se mostra, até certo ponto, por completo no dele.
Para o diretor de Tropa de elite, RoboCop representa um passo à frente em seus questionamentos políticos e sociais. Afinal, agora ele está realmente falando para o mundo.
Já no prólogo – uma grande sacada, reconheça-se –, Padilha amplia sua visão em relação ao aparelhamento bélico do Estado. No caso preciso dos Estados Unidos, ele acertou em cheio ao apresentar o Exército americano completamente automatizado. Agora os soldados ficam em casa e o governo manda drones e robôs para pacificar outros países, como o recalcitrante Irã.
Além disso, a tão vigilante imprensa americana não poderia ser mais enxovalhada. O ultradireitista apresentador de TV Pat Novak (Samuel L. Jackson) se faz de relações públicas do empresário Richard Sellars (Michael Keaton), o presidente da OmniCorp. Assim como no primeiro filme é ele quem propõe essa mistura de homem e máquina para levar a ordem para dentro do País, já que a legislação americana não permite o uso de robôs em seu solo.
A bem da verdade, RoboCop, é um filme de fôlego curto, apesar de sua excelente premissa. O começo é bom, até a entrada em cena da versão ciborgue do policial Alex Murphy (Joel Kinnaman, pouco carismático). Ele não acredita que ainda é humano e abandona esposa e filho. Esse dilema entre o homem e a máquina é bem administrado por Padilha e o roteirista Joshua Zetumer, com a inclusão do cientista dr. Dennett Norton (Gary Oldman).
Do meio para o fim, no entanto, o filme perde em interesse quando deveria chegar ao auge. As cenas de ação, atabalhoadas, parecem feitas para um videogame infantojuvenil. Com um pouco mais de sangue e fúria certamente José Padilha teria feito de RoboCop um filme bem melhor.