Assim como Tom Hanks, Robert Redford também ficou chateado por não haver sido indicado ao Oscar de Melhor Ator. Claramente antenada com o público mais jovem, a Academia não se interessou pela magnífica interpretação de Redford em Até o fim, que estreia hoje no Moviemax Cinema Rosa e Silva.
Depois de um período de quase cinco anos sem filmar, o ator de 78 anos não teve medo de encarar um papel dificílimo. Afinal, ele é o único personagem em cena, quase não fala e sofre feito um cão por quase duas horas. Até com um terço de sua idade, qualquer ator pensaria duas vezes em aceitar as condições de filmagens imposta pelo diretor J.C. Chandor (de Margin call - O dia antes do fim).
Todo o filme, sem exceção, se passa em alto-mar. Começa com a narração de um homem solitário que escreve uma carta de desculpas. Logo depois, ele acorda com o barco avariado ao bater em um contêiner perdido no meio do Oceano Índico. Com resignação, o homem remenda o furo na lateral do barco, na esperança de seguir viagem sem tropeços.
Mas, acontece o que ele mais teme. Uma tempestade se avizinha, fica sem o barco e a saída é se refugiar em um bote salva-vidas. Sucessivamente, outros desafios estarão à sua espera, como a sede e a ameaça das criaturas do mar. Em um momento de grande desespero, o homem se agarra apenas em duas palavras para descrever a sua situação.
Redford, com sua pele clara e envelhecida, chega a incomodar na sua luta pela vida. Em alguns momentos, quase sempre absurdamente irônicos, desejamos que o seu personagem desista de tudo e acabe com aquela agonia. Como uma espécie de odisseia contra os perigos da natureza, Até o fim prova que não se deve perder a esperança.
Com esse filme singular, o diretor J.C. Chandor realizou o que se pode chamar de verdadeiro tour de force cinematográfico, com destaque principalmente para a edição de som e mixagem. Os sons são tão presentes que dividem a atenção com a presença solitária de Robert Redford.