Ícone idolatrado das décadas de 50 e 60 por sua beleza estonteante e sensualidade exacerbada, Brigitte Bardot comemora no domingo seus 80 anos vivendo em completa reclusão, apenas acompanhada por seus amados animais.
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"Minha primeira vida me permitiu vencer nesta segunda. Se eu não tivesse sido Brigitte Bardot e ficado conhecida em todo o mundo, nunca teria feito um décimo do que eu faço agora pelos animais", declarou à AFP a ex-atriz que muito contribuiu para a libertação sexual no mundo muito puritano de seus dias de glória.
Rompida com sua família burguesa, B.B. lançou-se no cinema após se formar dançarina. Em 1956, foi destaque em um filme concebido para ela por seu então marido, o cineasta Roger Vadim: "E Deus Criou a Mulher".
Na tela dançava mambo de forma apaixonada e provocativa, enquanto sua longa saia se abria até a cintura. Uma cena que provocou um escândalo e a proibição do filme em alguns estados dos Estados Unidos.
Assim nasceu o mito Bardot, símbolo da feminilidade e considerada por muitos a mulher mais bonita do mundo.
Estrela com rosto de Lolita e curvas de femme fatale, tornou-se a fantasia dos homens e alvo das ligas conservadoras, que viam nela um perigo maior que um apenas um "sex-symbol".
A romancista Simone de Beauvoir dizia sobre Bardot: "Ela anda com os pés descalços, ela vira as costas aos vestidos elegantes, joias, perfumes, maquiagem, a todos esses artifícios (...) Ela faz o que lhe agrada e é isso que é perturbador".
Perseguida por hordas de fotógrafos que acompanhavam cada movimento seu, a escandalosa artista, que fez várias tentativas de suicídio durante a sua vida, perdeu toda a privacidade.
Queimou-se sob os holofotes, deu à luz um menino que não queria, e multiplicou suas escapadas, maridos (quatro no total) e casos de amor.
Atrevimento do século XX
Entre as suas provocações, respondeu a um convite do general de Gaulle ao palácio do Eliseu vestindo calça e jaqueta, enquanto apenas saias e vestidos eram permitidos para as mulheres. Ele se mostrou muito feliz, sua esposa muito furiosa.
De fato, B.B. empreendeu em sua vida a mesma liberdade que sua personagem, "uma menina de seu tempo, livre de qualquer sentimento de culpa, de tabus impostos pela sociedade", nas palavras de Roger Vadim.
Nascida em 28 de setembro de 1934, Brigitte Bardot participou de cerca de cinquenta filmes, muitos de iniciantes, mas também de algumas obras-primas: "Amar é a minha profissão" (En cas de malheur), de Claude Autant-Lara ou "O Desprezo" (Le Mépris) de Jean-Luc Godard.
Desgastada pela glória, colocou um fim abrupto à sua carreira no cinema em 1973 para se dedicar aos animais depois de ver uma reportagem sobre a caça às focas.
Continua vivendo no sul da França, entre a sua propriedade "La Madrague" em Saint-Tropez, em um pacato vilarejo de pescadores que se tornou, em grande parte por causa dela, uma meca para o jet set, e no interior onde possui uma segunda residência isolada, La Garrigue.
Bardot recolhe animais em perigo e administra sua Fundação, criada em 1986. "Não vejo quase ninguém", diz ela que "não sente mais vontade de ir ao cabeleireiro".
"Mas sou combativa. Não devemos ser passivos na vida. Devemos servir para alguma coisa", diz ela.
Entre suas batalhas prioritárias, a abolição do abate de animais para rituais, o fechando de matadouros de cavalos e a proteção dos elefantes africanos.
À medida que envelheceu, a atrevida do século 20 desposou teorias da extrema direita e agora reivindica sua proximidade com Marine Le Pen, líder do partido Frente Nacional, a quem ela apoiou nas eleições presidenciais de 2012.
Suas declarações sobre os homossexuais, a imigração, ou sobre os muçulmanos, valeram-lhe cinco condenações por incitar o ódio racial. Sua imagem é "turva", reconhecem alguns de seus biógrafos, muitos foram os que publicaram livros sobre "o rosto de uma geração".