Estreia

Tim Maia vira filme cheio de drogas e muito soul

Com direção de Mauro Lima, cinebiografia do cantor estreia hoje

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 29/10/2014 às 6:29
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Com um talento mais impregnado que as plaquetas no sangue, Tim Maia parece ter tido o cuidado de estragar especialmente sua vida pessoal para melhorá-la como narrativa. Confirmando a máxima rodrigueana de que tudo o que é péssimo de se viver é incrivelmente maravilhoso de se contar, o velho síndico ganha sua cinebiografia com a estreia, amanhã, de Tim Maia, o filme.

“O cara nasceu na Tijuca, numa família humilde e teve uma vida que, de fato, parece ter sido vivida para virar filme: foi preso, teve altos e baixos, explodiu no Brasil com seu talento", diz o diretor Mauro Lima, contratado pelo produtor Rodrigo Teixeira pela grande afinidade entre ambos. E, sobretudo, por ter passado com louvor na prova de como contar bem, no cinema, a história de uma vida, em Meu Nome não é Jonny (2000), seu batismo no sucesso.  Com coprodução da Globo Filmes, o orçamento do filme foi de R$ 10 milhões. “Geralmente, filmes do tipo têm orçamento de R$ 14 milhões”, comentou o produtor, em entrevista coletiva ao lado do elenco, na última segunda-feira, em São Paulo.

Com uma direção de arte notável, o filme apresenta, com grande elegância plástica, várias das descidas de Tim ao inferno – com o glossário de drogas na película, a classificação indicativa acabou ficando 16 anos. A estética, linear na estrutura de apresentação, desenvolvimento, clímax e conclusão, é amplamente televisiva. Não está, aliás, descartada a possibilidade de o projeto ser convertido para a TV. "Estamos analisando", diz o produtor.

O roteiro é baseado no livro Vale tudo, biografia do compositor escrita pelo amigo "nelsumota", com quem Tim partilhava intimidades musicais, torradas com geleias e uns "bauretes". Mas evita, contudo, os detalhes mais jornalisticamente biográficos e se ampara em grandes elipses. Dos primeiros anos modestos como marmiteiro na Tijuca, ao lado dos amigos Roberto e Erasmo Carlos em busca de um lugar ao palco à aventura desregrada em Nova Iorque, onde teria sua primeira prisão, o filme faz um bom estágio na fase “racional” do artista; quase ignora o Tim Maia popularesco dos anos 1980 para ir direto ao final de sua reabilitada carreira, nos anos 1990, quando ele, novamente rei das pistas, sai do palco quase que diretamente para o cemitério.

"Uma biografia tradicional, documental, nem sempre tem o ritmo mais adequado para um filme de grande público. Tive que condensar vários momentos do Tim para fazer um filme de ficção baseado em sua vida", diz Mauro Lima. Nelson Motta esteve nos sets de filmagem, mas não escreveu uma linha efetiva do roteiro.

Já consagrado como ídolo, Tim Maia tem parte considerável da narrativa em torno do momento em que mais pesado pegou com as drogas. A história é contada, cronologicamente, a partir das memórias apresentadas num off (às vezes, pesadamente didático) de um músico amigo de Tim, com quem ele esteve quase a vida toda. Batizado ficcionalmente de Fabiano, o músico é interpretado com tonicidade por Cauã Reymond, explorado pela câmera em seus melhores ângulos para garantir o tanto de curiosidade mundana que o galã gera nos projetos em que se envolve.

A outra personagem central é Janaína, grande amor de Tim que, no filme, sintetiza as várias mulheres que ele teve. De uma beleza magnética e ângulos cuidadosamente supervalorizados, a personagem é defendida pela atriz Aline Moraes (mulher do diretor Mauro Lima). “Tive que reunir várias mulheres do Tim para fazer a Janaína.”

Na primeira parte, o filme gravita da infância ao esforço de Tim em encontrar o amigo Roberto Carlos, depois que volta da prisão, na aventura americana em que importou grandes doses do soul americano para a MPB. Um lado mais ególatra do rei do iê-iê-iê desfila na tela. “Roberto Carlos leu e autorizou o uso de sua imagem”, diz o produtor. A plausibilidade do Robertão, no entanto, é prejudicada por uma interpretação demasiadamente decalcada do ator George Sauma. No elenco, quem de fato brilha (e de fato, canta, terçando vozes com as gravações originais) são os atores Robson Nunes e Babu Santana. Responsáveis pelo Tim em fases diferentes, nem nos deixam perceber que houve mudança de ator da juventude para a vida adulta. Parecem ungidos pelo velho síndico.

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