CRÍTICA

Depressão é tema do filme francês Em um pátio de Paris

Longa tem Catherine Deneuve no elenco

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 01/04/2015 às 6:00
Mares Filmes-Europa Filmes/Divulgação
Longa tem Catherine Deneuve no elenco - FOTO: Mares Filmes-Europa Filmes/Divulgação
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Embora não agrade a todos os públicos, é inegável o poder dos filmes que acompanham a vida de pessoas que enfrentam doenças. Mesmo que nem sempre haja um final feliz, a luta das vítimas toca fundo o coração dos espectadores. Quando a história é biográfica, o interesse é ainda maior. E quando o personagem é famoso, o sucesso é quase certo.

O longa-metragem francês Em um pátio de Paris, que estreia nesta quinta-feira (02/05), no Moviemax Rosa e Silva, trata de um problema de saúde que acomete milhões de pessoas em todo mundo, mas que nem sempre está presente nas telas dos cinemas: a depressão. Com uma certa dose de leveza, pelo menos na metade de sua duração, o filme dirigido por Pierre Salvadori traz um relato ficcional sobre o encontro de dois personagens depressivos em um prédio parisiense.

Primeiro, somos apresentados a Antoine (Gustave Kevern), um músico que desiste da carreira e vai procurar um emprego qualquer. Depois de uma curta cena numa agência de emprego, Antoine será entrevistado pelo casal Serge (Féodor Atkine) e Mathilde (Catherine Deneuve) para assumir a vaga de zelador. Síndica do prédio, a mulher aos poucos vai demonstrar que também sofre da doença, que ficou ainda mais grave devido a uma série de obsessões que ela desenvolveu com o tempo.

Pelo menos no primeiro ato do filme, as dificuldades de Antoine para se adaptar às tarefas do dia a dia – como também seu comportamento errático – são apresentados por Salvadori sob uma ótica que pode ser considerada leve e muita vezes cômica, o que faz com que o espectador relaxe e se prepare psicologicamente para momentos mais barra-pesada. Salvadori, que é mais conhecido pela comédia Uma doce mentira, com Audrey Tautou, sabe em que terreno está pisando.

Quando ele tira o foco de Antoine e começa a mostrar os problemas de Mathilde, o filme ganha um outro tom. Salvadori desnuda os dois personagens e, aos poucos, os espectadores começam a entender o modo de sentir e pensar desses amigos improváveis. Sem cobranças, Antoine e Mathilde vão se ajudar. Na verdade, será Antoine quem dará suporte à mulher. Seja em um passeio, quando a leva para rever a antiga casa em que morou na infância, seja ao apoiá-la numa campanha absurda sobre os perigos que rondam os prédios antigos do bairro onde mora.

Essa transição, que mostra a face mais real dos problemas de Antoine e Mathilde, é acompanhada com a entrada de outros personagens, também portadores de depressão, como os inquilinos Stéphane (Pio Marmai), um ex-jogador drogado que rouba bicicletas, e Laurent (Nicolas Bouchaud), que o persegue e faz constantes cobranças a Antoine. Além deles, aparecem ainda um imigrante russo e um idosa, que também mostram comportamentos pouco equilibrados.

Sem recorrer a clichês comportamentais, nem malabarismos de câmera para demonstrar os problemas deles, Salvadori se atém mais ao entendimento que eles têm sobre as suas dificuldades. Talvez o momento em que Mathilde se isola no quarto do zelador não se explique, principalmente pela injustificada ausência do marido. No mais, trata-se de um filme de observação sobre uma doença incompreendida. E isso é bom.

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