Há dois anos, o diretor nova-iorquino Jeremy Saulnier havia esvaziado a poupança de sua mulher, estourado seu cartão de crédito para produzir "Blue Ruin" e apelado para uma campanha no Kickstarter.
Quando ele já se acostumava com a ideia de fazer filmes institucionais, o filme foi selecionado para fazer parte da Quinzena dos Realizadores, mostra paralela do Festival de Cannes, em 2013, e virou sensação indie nos Estados Unidos.
Saulnier agora retornou à Croisette como uma das maiores promessas de ser o "novo Quentin Tarantino" e não decepcionou. Ele foi muito mais além no grotesco em seu novo "Green Room". Exibido em première mundial no domingo (17), é um filme de horror violentíssimo, engraçado e pop. O diretor foi aplaudido de pé no fim da sessão.
Não foi apenas gentileza. "Green Room" é uma ópera punk sanguinolenta sobre a escalada da violência nos Estados Unidos - um tema tratado em "Blue Ruin".
E quanto cito punk é no sentido literal mesmo. Os protagonistas do longa formam a banda punk The Ain't Rights - o cantor Tiger (Callum Turner), a guitarrista Sam (Alia Shawkat), o baixista Pat (Anton Yelchin) e o baterista Reece (Joe Cole).
O grupo está em uma "turnê" vagabunda rumo a Washington e toca por uns trocados. É quando termina em um bar de beira de estrada no meio do Oregon, uma pocilga frequentada por skinheads - o que é mais uma brincadeira de Saulnier, já que o Oregon é um estado conhecido pelo espírito "zen-riponga".
A banda trata de provocar de cara, tocando "Nazi Punks Fuck Off", do Dead Kennedys, sob uma chuva de garrafas e cusparadas.
Quando tudo parecia ter dado certo após o show, eles testemunham o assassinato de uma garota e são presos em um recinto com a amiga da vítima, interpretada pela inglesa Imogen Poots ("Need For Speed") no melhor papel da sua carreira.
Eles precisam dar um jeito de sair do local vivos, mas logo a insanidade toma conta de todos. Começa com trocas de golpes de jiu-jitsu, depois sobe para um estilete, passa por um facão, alcança um revólver e termina com espingardas de alto calibre.
O banho de sangue imprevisível sobre quem vai sair vivo ou morto arrancou aplausos diversas vezes durante à exibição. O filme é um primo interiorano de "Assalto à 13ª DP", de John Carpenter, com diálogos curtos, mas marcantes.
Até deixa em segundo plano a participação especial de Patrick Stewart ("X-Men") como o chefão do esquema criminoso que sustenta a "casa de shows". Não é para os fracos de coração.