Um dos mais importantes cineastas brasileiros da atualidade, Walter Salles sempre se mostrou interessado em manter diálogo com outros cineastas. O resultado de sua admiração pelo diretor Jia Zhang-ke, o mais importante da China, se transformou em livro e um filme em cartaz no Cinema do Museu. Nesta entrevista, concedida via e-mail, Walter fala sobre como conheceu o cineasta, o olhar crítico para o seu país e as filmagens, na China, do documentário Jia Zhang-ke – Um Homem de Fenyang.
JORNAL DO COMMERCIO – Jia Zhanke praticamente foi revelado em Berlim, em 1998, quando Central do Brasil ganhou o Urso de Ouro. É dessa época o seu primeiro contato com ele?
WALTER SALLES – Sim. Por coincidência, o primeiro filme dirigido por Jia, Um Artista Batedor de Carteiras (Xiao Wu) foi apresentado no Festival de Berlim onde nos estávamos com Central do Brasil. Xiao Wu acabou ganhando a sessão paralela do festival, chamada Fórum. Nosso primeiro encontro mais longo foi em 2007, quando entrevistei Jia a convite de Leon Cakoff e Renata de Almeida na Mostra de São Paulo. Conversamos sobre os cineastas caros a Jia, Antonioni, Bresson, Hou Hsiao Hsien. O homem era tão fascinante quanto a obra, e foi nesse momento que começamos a falar do livro e do documentário.
JC – Por que fazer um documentário sobre Jia Zhang-ke, um cineasta relativamente jovem, com a obra ainda em andamento?
WALTER – Por várias razões. Primeiro, porque nenhum pais mudou tão radicalmente nos últimos 20 anos quanto a China, e ninguém filmou aquela terra em transe tão bem quanto Jia. Pode-se dizer que Jia trouxe o cinema de volta para o centro do debate, no sentido em que seus filmes são instrumentos fundamentais para entender a extraordinária complexidade de seu país. Com a internet e as mídias sociais, o cinema deixou muitas vezes de trazer notícias do mundo, e os filmes de Jia invertem essa percepção. Por outro lado, penso que Jia ampliou as possibilidades do cinema humanista, um pouco como Kieslowski o havia feito nos anos 90 com o seu Decálogo.
Leia a entrevista completa na edição deste sábado (19/8) no Caderno C, do Jornal do Commercio.
