CINEMA

Anna Muylaert e o incômodo do protagonismo feminino

Cineasta paulista fala de Mãe Só Há Uma, seu novo filme, que estreia nesta quinta-feira (21/7)

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 20/07/2016 às 5:44
Gleeson Paulino/Divulgação
Cineasta paulista fala de Mãe Só Há Uma, seu novo filme, que estreia nesta quinta-feira (21/7) - FOTO: Gleeson Paulino/Divulgação
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Na próxima terça, 26, a cineasta paulista Anna Muylaert volta ao Recife para um debate sobre o longa-metragem Mãe Só Há Uma, que foi premiado com o Teddy (especial para filmes com temática LBGT). no último Festival de Berlim. Nesta entrevista, Anna fala sobre o novo filme, o convite para votar no Oscar e reflete sobre a polêmica que se envolveu com Cláudio Assis e Lírio, no ano passado, durante o debate de Que Horas Ela Volta?, no Cinema do Museu. Mãe Só Há Uma estreia em circuito nacional nesta quinta-feira (21/7).

JC – O filme deixa bastante clara a ideia de que a identidade sexual dos adolescentes é mais fluida nos dias de hoje, que não é a mesma dos pais deles. Você acha que como jovens como Pierre estão lutando para serem o que são, independente do que seus pais acham? Como você chegou até essa realidade?

ANNA – Foi voltando pra noite que eu conheci essa realidade. Eu tive filhos, há 20 anos, e fiquei muitos anos sem sair pra noite. E até aonde fui, não existia esse tipo de manifestação sexual, de identidade e de gênero, em que tudo se mistura. Na minha época, existia o clichê: menina tinha cabelo comprido e usava batom, e menino usava calça. Hoje, eles estão criando uma nova identidade. Quando comecei a entrar em contato com eles, na noite e através de amigos, eu decidi trazer isso para dentro do filme porque achei fascinante, e também pelo fato de que achei eles muito relaxados. Não é que eles estão mais “doidões”, é que eles estão numa boa. 

 JC– Como você recebeu o convite para ser membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e votar no Oscar de Melhor Direção?

ANNA – Eu recebi o convite, mas achei que era um trote. Só que não era. Daí, li o release deles e entendi que era por causa do movimento de inclusão de mulheres e negros, estrangeiros principalmente. Eu achei bacana, justo, porque meu filme esteve lá no ano passado, foi bem de crítica e ganhou vários prêmios. Achei natural. Depois que você aceita o convite, você escolhe ou não se quer votar. Mas eu me cadastrei e vou receber os filmes, em janeiro, e depois voto online. Eu adorei, fiquei feliz, achei ótimo.

 JC – Há quase ano, na sua vinda ao Recife para o lançamento de Que Horas Ela Volta?, os cineastas pernambucanos Cláudio Assis e Lírio Ferreira tiveram uma atitude machista quando tentaram aparecer mais do que você no debate que se seguiu ao filme. Como você analisa o que aconteceu naquela noite, depois desses meses todos?

ANNA – Eu entendo que eles fizeram uma ação de interromper a minha fala, sim. Mas também entendo que eles são assim. Não me senti ofendida em nenhum momento. Na verdade, o público ficou mais incomodado do que eu mesma. Eu gosto muito dos dois, tive uma paciência maior do que deveria ter tido. Faltou em mim o impulso de dizer chega e tirá-los do cinema. Fiquei como uma mãe paciente. Claro que me incomodaram um pouco, mas não foi algo que me chateou profundamente. Continuo gostando deles como gostava antes. Mas acho que a partir daquele episódio, ele acabou tendo uma função simbólica, tanto para o cidadão do Recife – que já estava de saco cheio com esse tipo de intervenção deles em outros eventos – quanto em mim, que passei a ser perguntada sobre essa situação de machismo. Passei a falar disso porque estava vendo em outras esferas da minha vida de maneira muito mais forte do que foi ali. Aquilo acabou sendo um evento que me levou a falar de uma coisa que eu estava precisando falar. Porque eu sou uma cineasta mulher que chegou a um lugar de poder, de vendas de ingressos e de sucesso, que poucas mulheres chegaram – talvez nenhuma nesse grau – e nesse novo lugar, senti o incômodo dos homens em me ver no papel de protagonista. Afinal, o normal da mulher é ser assistente, coadjuvante, e eu passei a falar sobre isso em âmbito geral, o que acabou tendo uma importância enorme para várias mulheres do setor. Inclusive a Ancine, nesse meio tempo, determinou que todos os editais tem que ter metade homem, metade mulher nos julgamentos, o que é ótimos para nós.

Leia a reportagem completa na edição desta quarta-feira (20/7) no JC+, do Jornal do Commercio.

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