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Waiting For B: documentário mostra fãs que acamparam para ver Beyoncé

Delicado e potente, filme é um retrato de uma parcela da juventude LGBTT

JC Online
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Publicado em 02/03/2017 às 13:42
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Delicado e potente, filme é um retrato de uma parcela da juventude LGBTT - FOTO: Reprodução
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O que leva dezenas de pessoas a ficar meses acampando em frente a um estádio para garantir os melhores lugares para assistir ao show de seus ídolos por cerca de duas horas? Partindo dessa pergunta geral, os diretores Abigail Spindel e Paulo César Toledo acompanharam, durante dois meses, em 2013, o acampamento montado por fãs de Beyoncé ao redor do Estádio Morumbi, em São Paulo. No documentário Waiting For B, que estreia hoje nos Cinema da Fundação/Museu e São Luiz, a dupla constrói um complexo retrato da idolatria, articulando, no caminho, questões como sexualidade, poder econômico e capital simbólico.

Poucos fandoms (subcultura de fãs que compartilham sentimentos de afeto e companheirismo a partir do objeto de interesse em comum) são tão intensos como o de Beyoncé. A cantora americana, hoje nome já consolidado no panteão do pop, tem entre seus adoradores uma legião de seguidores que se autointitula Beyhive (algo como colméia, uma alusão ao apelido da cantora, que é vista como a abelha-rainha). No Brasil esta idolatria assume contornos bem específicos, alinhados às características mais passionais do ethos do País.

Em determinado momento do documentário, inclusive, uma fã tenta explicar a razão que distingue os fãs brasileiros do resto do mundo. “É alegria, animação, inquietação; a gente ama demais”, afirma. Em outra passagem, um rapaz pergunta a outro se ele se arrepende de ter vendido o apartamento para conseguir assistir às apresentações da cantora. “Não”, diz, enfático.

Para além de um simples registro da idolatria, o filme de Abigail Spindel e Paulo César Toledo se destaca por lançar luz sobre as vidas de seus personagens, em sua maioria homens gays e mulheres negras, que vivem na periferia, sobre os quais parecem ecoar de forma ainda mais potentes as mensagens empoderadoras proferidas por Beyoncé. Nesse contexto, os diretores vão desvendando questões mais profundas, como desigualdades sociais, racismo e homofobia. 

Em um momento particularmente soturno, é registrado o momento em que torcedores do São Paulo se dirigem ao Morumbi para assistir a um jogo. Os fãs acampados, em sua maioria homossexuais que não se conformam com padrões de gênero, aparecem assustados e falam sobre a necessidade de “amenizar” suas formas de ser para evitar problemas (violências físicas e simbólicas).

Focado na alegria compartilhada daquele grupos de pessoas cujo objetivo é viver um sonho que, apesar de curto (o show dura em média duas horas), lhes dá gás para enfrentar a rotina opressora e o mundo que lhes nega oportunidades igualitárias. Waiting For B é um documentário precioso, uma celebração das vivências queer e um delicado retrato de uma juventude que busca em Beyoncé, Lady Gaga, Rihanna e outras divas aspirações para almejar um glamour que a sociedade lhes nega. 

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