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Em Cannes, o assunto mais falado é... a Netflix

O Festival de Cannes deste ano começou abafado pela polêmica com o serviço de streaming

Da AFP Anna Pelegri
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Da AFP
Anna Pelegri
Publicado em 17/05/2017 às 19:13
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O Festival de Cannes deste ano começou abafado pela polêmica com o serviço de streaming - FOTO: AFP
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Glamour e controvérsia. O Festival de Cannes deu início nesta quarta-feira a sua 70ª edição com um desfile de estrelas como Monica Bellucci, Uma Thurman e Marion Cotillard, e uma polêmica pela presença de dois filmes da Netflix na disputa pela Palma de Ouro.

Bellucci, com um leve vestido azul marinho decotado, exerceu a função de mestre de cerimônia e apresentou o presidente do júri, o espanhol Pedro Almodóvar, como o "homem que ama as mulheres".

"Prometo dar o melhor e o pior de mim", disse Almodóvar. "Serei subjetivo, apaixonado e flexível".

A cerimônia de abertura foi "almodovariana": com a atuação da bailarina espanhola Blanca Li, coreógrafa do diretor, interpretando "Un año de amor", de seu filme "De salto alto" ("Tacones Lejanos"). Bellucci também dançou sensualmente com um comediante francês.

A jovem atriz e modelo Lily-Rose Depp, de 19 anos, filha de Vanessa Paradis e Johnny Depp, abriu oficialmente o Festival, junto com o diretor iraniano vencedor do Oscar, Ashgar Farhadi ("A separação", "O apartamento").

A tradicional subida da escadaria do Palácio dos Festivais, às margens do porto de Cannes, foi protagonizada por estrelas como Susan Sarandon, Adrien Brody, Rossy de Palma e Victoria Abril, cujo vestido de inspiração asiática acoplado a um extravagante guarda-chuva chamou a atenção.

Almodóvar pressiona a Netflix

Como é habitual em Cannes, o glamour se misturou com a polêmica.

Almodóvar colocou lenha na fogueira da polêmica com a Netflix ao assegurar que seria um "enorme paradoxo" que uma produção vencedora da Palma de Ouro não pudesse ser vista nos cinemas.

Os dois filmes do Netflix, "Okja", do diretor sul-coreano Bong Joon-Ho, e "The Meyerowitz Stories", do americano Noah Baumbach, não poderão ser vistos nos cinemas da França por causa da regulamentação nacional.

A questão provocou tamanha indignação entre as salas de cinema francesas que os organizadores do festival se viram obrigados a impor que a partir de 2018 selecionarão apenas filmes que se comprometerem a passar nos cinemas da França.

Almodóvar considerou "enriquecedora" a existência de gigantes como a Netflix, mas também pediu a estas plataformas que "aceitem as regras do jogo", respeitando as "diferentes formas de exibição", como as salas de cinema.

O cineasta fez estas declarações junto com outros membros do júri, incluindo os atores americanos Will Smith e Jessica Chastain, a francesa Agnès Jaoui, a alemã Maren Ade e o italiano Paolo Sorrentino.

Smith adotou uma postura conciliadora com a Netflix, ao assegurar que seus filhos assistiam filmes na plataforma e também ao cinema. Trata-se de duas formas "completamente diferentes de entretenimento", declarou o ator.

O gigante do streaming, que já está envolvido com as cadeias de cinema nos Estados Unidos, se chocou na França como uma regra que o obriga a esperar três anos entre a estreia de um filme nas salas de cinema e sua divulgação para seus assinantes.

Coppola, Haneke e Lanthimos, em competição

Dezenove filmes disputam o maior prêmio do Festival de Cannes. Um dos favoritos é "Happy end", do austríaco Michael Haneke, que pode se tornar o primeiro cineasta vencedor de três Palmas de Ouro, após os triunfos de "A Fita Branca" e "Amor".

Sofia Coppola é uma das três mulheres na disputa, com "O Enganado", inspirado em um filme de 1971 protagonizado por Clint Eastwood.

Esta produção é protagonizada por Nicole Kidman e Colin Farrell, uma dupla que se repete em "The Killing of a Sacred Deer", do grego Yorgos Lanthimos.

A atriz vencedora de um Oscar, de 49 anos, é o grande nome desta edição do festival, pois também está presente em outras duas produções: "How to Talk to Girls at Parties" e a série de TV "Top of the Lake", da diretora neozelandesa Jane Campion.

Pela primeira vez em 15 anos, nenhum filme ibero-americano competirá pelo prêmio máximo, apesar de estarem em destaque nas mostras paralelas filmes como "La cordillera", de Santiago Mitre, com Ricardo Darín e Elena Anaya, e "Las hijas de Abril", do mexicano Michel Franco.

À margem da competição, o mexicano Alejandro González Iñarritu apresentará um curta-metragem de realidade virtual, "Carne y arena".

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