Mais um

Luiz Joaquim cancela participação no Cine PE, onde seria homenageado

Crítico cinematográfico alegou incompatibilidade de agenda

JC Online
Cadastrado por
JC Online
Publicado em 05/06/2017 às 17:49
Reprodução
Crítico cinematográfico alegou incompatibilidade de agenda - FOTO: Reprodução
Leitura:

O crítico Luiz Joaquim divulgou nesta segunda-feira (5), através de carta aberta publicada no seu site, Cinema Escrito, que não participará mais do Cine PE, que será realizado de 27 de junho a 3 de julho. O profissional seria homenageado e realizaria uma mostra paralela de filmes, intitulada Espelho Brasileiro.

Após as polêmicas envolvendo o Cine PE, com a retirada de filmes por parte de cineastas que discordavam da linha curatorial do evento, que classificaram como de direita, a saída de Luiz Joaquim é mais uma perda para o festival. Segundo o crítico, a decisão se deu por conflito de agendas.

LEIA CARTA NA ÍNTEGRA:

“Carta aberta

Recife, 5 de junho de 2017

Com a nova data de realização do 21º Cine-PE: Festival do Audiovisual, apontada para acontecer entre 27 de junho e 03 de julho de 2017, estarei impossibilitado de participar da cerimônia de homenagem aos 20 anos (completos no último 28 de maio) de minha carreira profissional por estar previamente comprometido com outra agenda.

Da mesma forma, o crítico mineiro Paulo Henrique Silva, do jornal Hoje em Dia, e o Conservador-chefe da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Hernani Heffner – ambos convidados por mim para compor a mostra Espelho brasileiro – também não possuem mais disponibilidade para participarem do evento na nova data.

Desta forma, uma vez que a ideia da realização da mostra estava vinculada a homenagem, estou, em comum acordo com a produção do Cine-PE, cancelando a minha participação nesta edição do festival.

Ao aceitar o convite no início de abril para a homenagem, o entendi como reverência não apenas a mim mas aos profissionais da minha geração nesta área. Percebi também como uma possibilidade de participar de um espaço, cujo alcance é nacional, para colocar em primeiro plano a necessidade da crítica cinematográfica.

Necessidade não apenas num contexto cultural, mas também político. E não era de outra coisa de que se tratava a mostra idealizada por mim.

O Espelho brasileiro iria apresentar uma revisão de filmes nacionais realizados na primeira metade da década de 1980, momento em que o País respirava um ar oxigenado pela esperança do retorno à democracia, com o movimento “Diretas Já” após anos sob o regime instaurado pelo Golpe Militar de 1964. A dramaturgia do cinema brasileiro refletia isso, temática e esteticamente.

Hoje, a dramaturgia do cinema brasileiro obviamente também reflete seu atual momento, quando o País vivencia sob intensa inquietação da população diversas opções político-partidárias cujas posturas têm sido questionadas no que concerne à democracia e à legalidade.

É pelo contexto do comportamento de nossa população que isto ganhou reflexo em nosso cinema contemporâneo, com repercussão no mundo inteiro por obras como Que horas ela volta? (2015), de Anna Muylaert, ou Casa grande (2015), de Fellipe Gamarano Barbosa, além de O som ao redor (2013), Aquarius (2016), ambos de Kleber Mendonça Filho e, mais recentemente, Era o hotel Cambridge (2017), de Eliane Caffé.

Seria por essa perspectiva – da avaliação crítica de expressões artísticas -, que pretendíamos jogar luz sobre o cinema brasileiro de 35 anos atrás para, a partir dele, falarmos desse doente momento político em que estamos inseridos hoje.

Nesse contexto, a mostra Espelho brasileiro ainda tem todo sentido para acontecer e espero ter outra oportunidade para realizá-la como forma de tentar estabelecer um diálogo baseado na reflexão e não na assustadora polarização movida pelo ódio que estamos testemunhando no País.

Agradeço a BPE Produções pela proposta da homenagem e lamento por eventuais contratempos.

Obrigado, Luiz Joaquim”

Últimas notícias