Em fevereiro, a atriz Pally Siqueira convidou o namorado e ator Fábio Assumpção para visitar amigos e a família em Arcoverde - sua terra natal. Seria apenas uma viagem afetiva não tivessem eles, antes de embarcar, incluído na bagagem equipamentos básicos de captação de som e imagem. Apenas quatro meses depois, o casal apresenta o primeiro resultado da parceria. Hoje, às 20h, na abertura oficial do São João na cidade, será exibido o primeiro corte de Samba de coco.
O nome, por equanto, é provisório. Como também ainda não é certo o tamanho ou o formato final que terá o material captado. “Estamos finalizando o documentário. A próxima etapa é discutir exatamente se teremos um documentário ou uma série de TV”, diz Pallly, por telefone, de Arcoverde, onde está com o parceiro ajustando os detalhes para o lançamento de hoje. “Esse corte tá finalizado, colorizado, ele podia ser um produto final de 22 minutos. Mas ainda é cedo. Ainda não sabemos sequer se o longa terá o mesmo título usado agora para esse teaser”, diz Assunção.
Com equipe contratada pelos próprios diretores-produtores, a montagem do material final está a cargo da editora de imagens Natara Ney, pernambucana que assina, entre outros, o documentário Divinas Divas, dirigido pela atriz Leandra Leal, atualmente em cartaz. Entre o impulso inicial, a pesquisa e a gravação, foram apenas 120 dias. “Passamos duas semanas filmando entre Arcoverde, Pesqueira, Cimbres e Vale do Catimbau”, ela conta.
Os atores e agora diretores sobem ao palco principal de Arcoverde às 20h. Em seguida, os principais mestres e grupos de coco assumem a cena para abrir oficialmente a festa. “A ideia é que haja uma interação entre o filme e os mestres no palco”, adianta Assunção. Neste primeiro corte, o foco é a musicalidade. “Há outros aspectos que envolvem o coco, mas não poderíamos fechar bem uma linha de raciocínio abordando tudo”, diz Pally. Quando pronto, o documentário deve abordar, além do ritmo e da dança, o universo sócio-poético em redor do coco.
SAMBA DE FAMÍLIA
A narrativa é estruturada a partir dos depoimentos das principais famílias responsáveis pelo coco como um traço distintivo da cultura de Arcoverde. Seu Assis e a família Calixto (do Coco Raízes de Arcoverde), Mestre Gomes, do Samba do Trupé; Dona Severina, das Irmãs Lopes. “No filme, nosso homenageado é Seu Biu Neguinho. Ele estabeleceu uma nova métrica, trouxe uma nova estética ao samba de coco com a introdução do surdo”, diz Assunção. Artistas contemporâneos como Lirinha e Braulio Tavares pontuam algumas observações. “Lirinha compara, por exemplo, Seu Biu de Neguinho a Luiz Gonzaga”, diz o diretor.
A ideia, contudo, não é compor a narrativa de biografias cronológicas. “Durante as entrevistas, eu tentei sair da coisa mais informativa”, diz o diretor, mais interessado na trama filosófico-poética de seus personagens, em questões como “o que é ser mulher no Sertão ou “de onde vem o sofrimento?”. “As informações objetivas, eu posso colocar em leterring, mas a alma deles, não poderia colocar em legendas”, comenta Assunção.