Drama

'O Destino de Uma Nação' revê trajetória do polêmico Winston Churchill

Premiado no Globo de Ouro, o ator Gary Oldman disse que não pensou que esta seria sua 'grande chance' quando começou o projeto de viver o primeiro-ministro britânico.

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Publicado em 11/01/2018 às 9:27
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Premiado no Globo de Ouro, o ator Gary Oldman disse que não pensou que esta seria sua 'grande chance' quando começou o projeto de viver o primeiro-ministro britânico. - FOTO: Foto: Divulgação
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Foi preciso um Winston Churchill para Gary Oldman ser indicado para um Globo de Ouro, numa carreira de mais de 30 anos. No domingo, 7, ele levantou pela primeira vez seu troféu, por sua atuação em O Destino de Uma Nação, de Joe Wright. "Chamo de sorte de principiante", disse, fazendo bom uso da ironia fina dos ingleses, em entrevista à reportagem, em Londres, em dezembro, pouco depois de anunciados os concorrentes. Ele admite o que poucos atores têm coragem: um sentimento de "finalmente". A vitória é possivelmente mais um passo em sua trajetória rumo ao primeiro Oscar, no que seria apenas sua segunda indicação - a primeira foi por O Espião Que Sabia Demais, de Tomas Alfredson, seis anos atrás, quando perdeu para o francês Jean Dujardin, de O Artista. Oldman, que é apontado como grande inspiração por atores como Michael Fassbender e Tom Hardy, fez trabalhos memoráveis ao longo dos anos, de Sid e Nancy - O Amor Mata (1987) a JFK - A Pergunta que Não Quer Calar (1991) e Drácula de Bram Stoker (1992).

O ator, que completa 60 anos em março, disse, porém, que não pensou que esta seria a sua "grande chance" quando começou o projeto de viver o primeiro-ministro britânico durante a crise do cerco aos soldados do país em Dunquerque. "O filme pedia tanto, tinha a maquiagem, prótese, a roupa, é a última coisa em que estava pensando. Porque entro num filme sempre com algum medo e inquietação." No caso, o ator sabia que sua falta de semelhança física com Churchill seria uma questão a ser resolvida. Foi preciso maquiagem especial no rosto e um traje para deixar o esguio Oldman com as formas arredondadas do político. "Tinha trabalhado com Kazuhiro Tsuji, o designer de maquiagem, muitos anos atrás. Ele tinha se aposentado do cinema, mas eu disse para Joe Wright que se ele não conseguisse fazer, ninguém mais conseguiria, basicamente." Era preciso encontrar o equilíbrio entre o ator e o personagem, para que o segundo não engolisse o primeiro. "Não foi intimidante. Foi libertador, na verdade. Senti que podia me entregar completamente. Me esconder".

Com tudo o que está acontecendo no mundo, parece ainda mais relevante um filme sobre grande liderança num momento de crise, quando a Segunda Guerra parecia quase decidida em favor dos nazistas, e Churchill resolveu que era melhor um plano arriscado - retirar os 300 mil soldados encurralados em Dunquerque em barcos particulares pequenos - do que negociar com Adolf Hitler. "A ideia vem de seis anos atrás. Às vezes, os filmes se tornam relevantes no momento, mas não começamos com isso na cabeça. Está no zeitgeist (o espírito de uma época)", afirmou Oldman.

Curiosamente, Dunkirk, de Christopher Nolan, também cotado para o Oscar, conta o lado de lá, dos soldados à espera de um milagre na praia. "Hoje, estamos pensando em liderança - ou na falta de -, e Churchill é o epítome da liderança e da arte de governar. Engraçado como essas coisas acontecem.

Quando começamos, a eleição presidencial americana não tinha acontecido, não tinha Brexit. Mas você vê uma figura como Churchill e começa a comparar 1940 com 2017." Mas ele mesmo resiste a comparar as duas épocas. "Não acho que se possa ver os anos 1940 com os olhos de hoje. Era uma época diferente. Sabíamos quem era o inimigo, e ele estava ali. Agora, o inimigo está entre nós. É um tipo de batalha ou guerra muito diferente."

Oldman, que muitas vezes foi criticado por coisas que disse, parece mais comedido. Deve saber que, um pouco como os políticos, está em campanha. Ainda assim, mantém uma sinceridade rara de ver em Hollywood. Por exemplo, ao falar da ausência de trabalhos realmente significativos depois de sua brilhante atuação em O Espião Que Sabia Demais. "Tenho focado em outras coisas criativamente", disse, referindo-se a roteiros que escreveu e projetos de filmes que tentou financiar. "Mas claro que amaria ter um roteiro na minha mesa escrito pelo produtor e dramaturgo norte-americano Aaron Sorkin. Até alguém como Daniel Day-Lewis, que eu acho que não precisa trabalhar, tem intervalos entre seus grandes personagens. Há coisas que se faz para basicamente viver. Atuar é o que faço para sobreviver, é como alimento minha família. Óbvio que adoraria ter papéis melhores, mas levou esse tempo todo desde O Espião Que Sabia Demais para o Churchill aparecer". Está aberto a fazer séries de TV, que acompanha com interesse. Mas não antes de encher a estante com mais alguns troféus graças ao primeiro-ministro.

Há um mar de obras sobre o estadista britânico

O leitor interessado em Winston Churchill tem uma oceânica bibliografia à sua disposição. A começar pelas palavras do próprio personagem em sua monumental Memórias da Segunda Guerra Mundial. Seis volumes, no original, que valeram o Prêmio Nobel de Literatura ao estadista. No Brasil, saiu na íntegra nos anos 1950, em 10 volumes, pela Editora Nacional. Hoje, há disponível uma edição reduzida, em dois volumes, da Nova Fronteira. O estilo de Churchill é marcante, leve e incisivo ao mesmo tempo. Ficamos nos perguntando como um político podia escrever tão bem, mas é que nos baseamos nos parâmetros de hoje. Houve tempo em que homens públicos eram também intelectuais, por incrível que isso possa parecer.

Das biografias, a mais reputada é a de Martin Gilbert, Churchill - Uma Vida, também em dois volumes (Casa da Palavra). Churchill, de Roy Jenkins (Nova Fronteira), também é respeitadíssima. São extensas, bem pesquisadas, bem escritas. Vão da infância à participação do personagem na Segunda Guerra Mundial e, em especial, na Segunda, quando teve seu grande momento.

Churchill tem sido estudado, em vagas sucessivas, pelo historiador britânico John Lukacs, que a ele dedicou inúmeras obras. Vários de seus livros já foram lançados no Brasil, como O Duelo Churchill x Hitler e Churchill - Visionário, Estadista, Historiador. Mas é em Cinco Dias em Londres que Lukacs se concentra sobre esse curto período de tempo, decisivo não apenas para o povo britânico, mas para a Europa e toda a humanidade.

O próprio historiador conta que, ao longo das suas pesquisas, foi dando importância crescente a alguns dias de maio de 1940, até considerá-los como fundamentais para o desfecho da 2ª Guerra Mundial. Neles, Churchill teve de enfrentar uma acirrada batalha de bastidores contra os que preferiam um acordo com Hitler ao enfrentamento. Churchill era, em princípio, contra qualquer tipo de negociação.

No entanto, mesmo Churchill chegou a pensar em capitular e aceitar um arranjo com a Alemanha. Entregaria a Europa para salvar a sua ilha? "O mundo não imagina o quanto Hitler esteve perto de ganhar a guerra", escreve Lukács.

LIVROS

Memórias da Segunda Guerra Mundial

Winston Churchill

(Nova Fronteira - Casa dos Livros)

Churchill - Uma Vida

Martin Gilbert

(Casa da Palavra)

O Duelo: Churchill x Hitler

John Lukacs (Zahar)

Churchill - Visionário, Estadista, Historiador

John Lukacs (Zahar)

Cinco Dias em Londres

John Lukacs (Zahar)

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