OSCAR

A Forma da Água vence o Oscar das transformações de Hollywood

Noite de cerimônia foi marcado pela virada de mesa nas relações entre homens e mulheres na indústria cinematográfica americana

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 05/03/2018 às 2:49
Kevin Winter/AFP
Noite de cerimônia foi marcado pela virada de mesa nas relações entre homens e mulheres na indústria cinematográfica americana - FOTO: Kevin Winter/AFP
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A 90ª edição do Oscar, realizada no noite de ontem em Los Angeles, foi um das festas mais esperadas da história da Academia. Foi como se Hollywood tivesse que, numa única noite, reparar todos erros do passado – do comportamento machista dos seus produtores ao mico da troca de envelopes da cerimônia do ano passado, quando dois vencedores foram anunciados. Afinal, foi o mesmo casal daquela noite fatídica, Faye Dunaway e Warren Beatty, que foi chamado para anunciar o grande vencedor desta noite: a ficção científica romântica A Forma da Água, do mexicano Guillermo del Toro, que ganhou quatro Oscars: Melhor Filme, Melhor Diretor (del Toro), Melhor Trilha Sonora e Melhor Direção de Arte.

Apresentando o Oscar pela segunda vez, Jimmi Kimmel iniciou a transmissão lembrando que pessoas achavam que uma mulher (Mulher-Maravilha) ou a minoria (Pantera Negra) não conseguiria carregar um filme sozinho. “E esse ‘tempo’ foi em março do ano passado. As coisas estão mudando para melhor”, afirmou Kimmel, que lembrou também o escândalo Weinstein e o surgimentos dos movimentos Time's Up e #MeToo. Ele ainda tirou uma brincadeira com a estatueta: “O Oscar é o homem mais amado e respeitado em Hollywood. Mantém as mãos onde você pode ver, nunca diz nada rude e, mais importante, não tem pênis.”

Este ano, chamou atenção o cenário opulento, um tanto pesado e tenebroso, que contrastou em muito com a leveza e o bom humor da cerimônia conduzida Kimmel. Durante a festa, um dos momentos mais emocionantes foi a montagem especial em homenagem aos 90 anos do Oscar: cenas de filmes de todas as épocas, intercaladas por diálogos e até discursos – do falecido critico Roger Ebert – tocaram fundo o coração dos espectadores.

Em outra momento nonsense, Kimmel levou o diretor Guillermo del Toro, as atrizes Gal Gadot, Lupita Nyong'o e Margot Robbie, os atores Mark Hammil e Ansel Elgort e o compositor Lin-Manuel Miranda para homenagear o público. Eles invadiram uma sala de cinema ao lado do Dolby Theatre e levaram cestas de bombons, bolinhos e até maquinas que atiravam cachorros-quentes na plateia.

Mas o momento de maior teor político foi o sequência de depoimentos sobre os ventos das mudanças em Hollywood, com as atrizes Salma Hayek, Anabella Sciorra e Ashley Judd, as principais vítimas dos abusos sexuais de Harvey Weinstein. No vídeo, ficou clara uma virada de cena com uma maior participação de mulheres, gays e negros nas produções cinematográficas. O Oscar para o chileno Uma Mulher Fantástica, protagonizado pela atriz transgênero Daniela Vega, caiu como uma luva para o clima politicamente correto, excessivo em alguns momentos, da 90ª edição do Oscar.

Apesar de morna durante quase toda sua duração, a festa teve seu momento mais inflamado com a entrega do prêmio de Melhor Atriz. O discurso de Frances McDormand, no agradecimento pelo Oscar, foi o mais forte da noite: ela pediu igualdade em todas as relações em Hollywood, que agora elas pudessem escrever um “roteiro de inclusão” para todas. Todas as mulheres indicadas ao Oscar ficaram de pé enquanto Frances falava.

O cineasta e roteirista James Ivory, aos 89 anos, ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado pelo filme Me Chame pelo Seu Nome. O inglês Gary Oldman ganhou o Oscar de Melhor ator irreconhecível sob pesada maquiagem no papel do primeiro-ministro Winston Churchill no filme O Destino de uma Nação. O Oscar de Cabelo e Maquiagem também foi para o filme dirigido por Joe Wright.

O Oscar de Melhor Direção para o mexicano Guillermo Del Toro repetiu uma tradição dos últimos anos em Hollywood. Desde 2014 que os cineastas mexicanos estão papado todo os prêmios. Começou com Alfonso Cuáron, com Gravidade, e depois com Alejandro González Iñárritu, que ganhou dois Oscars seguidos: por Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), em 2015, e por O Regresso, em 2016.

O segundo filme com mais Oscars da noite foi Dunkirk, de Christopher Nolan, que ganhou Melhor Montagem, Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som. Uma das surpresas técnicas foram os dois prêmios para Blade Runner 2049, que ganhou Melhor Fotografia (Roger Deakins) e Melhores Efeitos Visuais.

O cantor Eddie Veder foi chamado para cantar durante a homenagem aos artistas desaparecidos durante o ano, como entre eles os cineasta Jonathan Demme, o diretor de fotografia alemão Michael Ballhaus e os atores, Roger Moore, Martin Landau, Don Ricles, John Heard, Jeanne Moreau e Sam Shepard.

RELAÇÃO DOS PREMIADOS DO 90º OSCAR

Melhor Ator Coadjuvante: Sam Rockwell - Três Anúncios Para um Crime

Melhor Maquiagem e Cabelo: O Destino de Uma Nação (Kazuhiro Tsuji, David Malinowski e Lucy Sibbick)

Melhor Figurino: Trama Fantasma (Mark Bridges)

Melhor Documentário em Longa-Metragem: Icarus

 Melhor Edição de Som: Dunkirk (Richard King e Alex Gibson)

Melhor Mixagem de Som: Dunkirk (Gregg Landaker, Gary A. Rizzo e Mark Weingarten)

Melhor Direção de arte: A Forma da Água (Paul Denham Austerberry, Shane Vieau e Jeffrey A. Melvin)

Melhor Filme Estrangeiro: Uma Mulher Fantástica (Chile)

Melhor Atriz Coadjuvante: Allison Janney, por Eu, Tonya

Melhor Curta em Animação: Dear Basketball

 Melhor Animação: Viva - A Vida é uma Festa

 Melhores Efeitos Visuais: Blade Runner 2049 (John Nelson, Gerd Nefzer, Paul Lambert e Richard R. Hoover)

Melhor Montagem: Dunkirk (Lee Smith)

Melhor Documentário em Curta-Metragem: Heaven is a Traffic Jam on the 405

Melhor Curta-Metragem: The Eleven O’Clock

Melhor Roteiro Adaptado: Me Chame Pelo Seu Nome (James Ivory)

 Melhor Roteiro Original: Corra! (Jordan Peele)

Melhor Fotografia: Blade Runner 2049 (Roger Deakins)

Melhor Trilha Sonora Original: A Forma da Água (Alexandre Desplat)

Melhor Canção Original: Remember Me - Viva - A Vida é uma Festa , de Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez

Melhor Direção: Guillermo del Toro, por A Forma da Água

Melhor Ator: Gary Oldman, por O Destino de Uma Nação

 Melhor Atriz: Frances McDormand, por Três Anúncios Para um Crime

Melhor Filme:  A Forma da Água

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